Já fomos, já deixamos de ser, talvez estejamos de volta. Poderá ser o regresso do mito. O mito que nunca o foi.
domingo, agosto 29, 2010
...
A melhor canção do mundo soa de dentro das garrafas de vinho vazias. Os cigarros são fumados lentamente, como se deles pudessemos inalar e guardar cá dentro qualquer pedacinho de felicidade. As palavras pretendem traduzir-se em gestos, como se a linguagem da alma perdesse assim menos dos seus significados e das suas significâncias, as distâncias, e as distâncias que se alargam mais e mais que já nem o corpo sabe o que a alma quis sussurrar. Imprecisos e no entanto decididos, os movimentos, só interessa parecer, na decisão, em todas as seguranças. As inseguranças são meninas de tranças que guardam esperanças que a realidade que vêem seja diferente daquilo que lhes parece. Ou que mude de repente sem aviso. De olhos grandes e esbugalhados, expectantes e tristes, cheios de qualquer coisa que se poderia tocar com as pontas dos dedos para sentir a matéria de que é feito. Mas ninguém se atreve. Já não há nada sagrado hoje em dia e ainda assim ninguém se atreve a tentar tocar com as pontas dos dedos na imatéria de que se compõem as emoções. As primas afastadas dos sentimentos. Esses seguram-se e agarram-se até se lhes cravam as unhas para os apertar, até fazer sangue, neles e nos dedos, da força que se faz. desses toda a gente conhece a consistência, tão volátil, tão... inconsistente.
"dos-sonhos" e do resto (ou, conversas sobre outras coisas ao fim-de-semana)
- Deixa-me contar-te os meus sonhos...
-... E nem sabes o que é difícil quando se quer realmente ter alguma coisa sólida e segura, que dure uma vida inteira!
- Deixa-me pegar-te na mão e ficar apenas a sentir os teus dedos nos meus...
- ... Porque hoje em dia, parece que as pessoas já nem sequer estão para isso. Ou não querem ou deixaram de acreditar que é possível, não sei!
- Deixa-me brincar com a ponta dos teus cabelos e fazer rolinhos enquanto os cheiro sem que te apercebas...
- E as coisas acabam ao mínimo problema, sem esforço, as pessoas desistem! Eu quero uma construção, alicercada e com raízes, com problemas e a conseguir lidar com eles. Assim é que se constroem as coisas, com seriedade!
- Deixa-me pousar o mão no teu ombro e ficar na quietude de um momento fora do tempo só por sentir o calor da tua pele na minha mão...
- Não percebo isto, a sério que não. Parece que já ninguém quer mesmo nada sério. Eu quero! Quero apaixonar-me e poder viver uma coisa séria, com uma boa história de amor e que dure uma vida inteira. Tu não queres?
- Quero o meu mundo feito em ti, encontrar-me e perder-me no teu corpo, conhecer as tuas linhas e os teus centímetros, saber-te de cor.
- Vês? Já ninguém quer nada sério e a sério. Por isso é que as coisas também não resultam, ninguém se esforça para construir uma história que dure, nem logo no começo nem depois... Desculpa, disseste alguma coisa?
- Nada. Não disse nada.
sexta-feira, agosto 27, 2010
pensamentos soltos
Às vezes as pessoas metem na cabeça que têm que comprar um carro, ficam obcecadas com a ideia de comprar um carro, planeiam, pesquisam, idealizam, escolhem qual o carro que vão comprar e não se lembram de lembrar que ainda não têm carta.
quarta-feira, agosto 25, 2010
involução
23h45.
3 "miúdas" meio graúdas. Bebemos vinho de (re)nome. Sabemos as gafes que se deram no trabalho - o que não significa que se evitem todas, mas significa que já sabemos quando as demos - à posteriori, redundantemente, claro!
Encomendamos (e pagamos) sushi do bom. E entretemo-nos em conversas daquelas que trazem fios agarrados e tentam deslindar conceitos que não existem, como a verdade última por detrás das verdades aparentes.
Efectivamente, o mundo (o nosso mundo) evolui. Anda, para um lado qualquer, acresce factores e factos e considerações. E daqueles inesperados.
A luta (interior) é mais ou menos a mesma (acho, pelas histórias... mas elas também são condicionadas pela perspectiva em que no momento são contadas, ainda que sejam as mesmas).
Isto é um dado adquirido para quem está "aqui" mas é uma inovação (historicamente/sociologicamente escrevendo - ou falando).
Bolas, lá estou eu outra vez com os parentesis e as divagações que não ajudam em nada mas que por alguma razão considero importante. E não vou tentar descobrir neste texto porque é que considero importante, que é para me conter.
Ou seja... há aqui um bom insight que eu sei qual é mas não me apetece continuar a escreve-lo. implica outro género de amadurecimentos, e nem toda a fruta madura é a melhor. a gente sabe o que acontece à fruta madura, n sabemos? pois.
segunda-feira, agosto 23, 2010
guerras ao nosso redor
Diz-nos a lei de Murphy que "Mesmo o objeto mais inanimado tem movimento suficiente para ficar na sua frente e provocar uma canelada."
Sendo uma grande apreciadora deste tratado murphyano, na verdade não concordo com esta lei, pelo menos desta maneira simplista. Não é verdade que os objectos inanimados têm movimento suficiente para nos atingir de maneiras particularmente dolorosas. A verdade por detrás deste acontecimento frequente é muito mais aterrador e insuspeito.
Sei de fonte segura que há toda uma conspiração entre cadeiras, móveis, mesinhas de cabeceiras, cantos e pés das camas, etc etc etc, para aniquilarem e acabarem com todos os mindinhos do mundo. Não sei onde e quando começou esta guerra, mas sei que os estrategas e generais por trás dela são os insuspeitos tapetes.
Rasteirinhos e praticamente inexistentes naquela que é a percepção humana do espaço (especialmente de manhã ao sair da cama) são os tapetes que sempre levam os nossos mindinhos para perto dos agressivos móveis. Um pequeno "deslize" para que o imperceptível movimento se faça sentir de forma aguda e desesperante no desgraçado mindinho cuja única arma que dispõe é a da sobrevivência, para continuar a ser agredido.
Gostava realmente de saber o que despoletou esta guerra muda da qual os meus dois mindinhos dos pés são vítimas indefesas praticamente todos os dias. Qual foi o mindinho que hostilizou desta maneira um tapete que conseguiu mobilizar não apenas todos os outros tapetes como todos os móveis para a sua causa. Talvez um mindinho com uma unha demasiado comprida que tenha causado um buraco num tapete? Parece-me móbil insuficiente para a agressividade que todas as manhãs sinto. Talvez uma "tapeta" que tenha jurado amor eterno a um qualquer mindinho passageiro, ignorando para sempre o senhor tapete do outro lado da cama? Ou quiçá um mindinho gozão que tenha ofertado pelo natal a um tapete já com mau feitio os resquícios de uma pastilha elástica?
Não sei efectivamente a causa desta guerra muda e absurda da qual os meus mindinhos são vítimas todas as manhãs. Mas sei que ela existe, já me foi confessada por uma banquinha de cabeceira mais vulnerável, quando lhe apertei os cantos tal qual colarinhos e a obriguei a confessar-se. Foi o 7º ataque no mesmo dia e o mindinho roxo e choroso nada dizia. Foi ela que me confessou que a origem é tapetiana e efectivamente é sobre estes soldados que os nossos mindinhos são conduzidos ao seu cruel e agressivo destino.
Sendo uma grande apreciadora deste tratado murphyano, na verdade não concordo com esta lei, pelo menos desta maneira simplista. Não é verdade que os objectos inanimados têm movimento suficiente para nos atingir de maneiras particularmente dolorosas. A verdade por detrás deste acontecimento frequente é muito mais aterrador e insuspeito.
Sei de fonte segura que há toda uma conspiração entre cadeiras, móveis, mesinhas de cabeceiras, cantos e pés das camas, etc etc etc, para aniquilarem e acabarem com todos os mindinhos do mundo. Não sei onde e quando começou esta guerra, mas sei que os estrategas e generais por trás dela são os insuspeitos tapetes.
Rasteirinhos e praticamente inexistentes naquela que é a percepção humana do espaço (especialmente de manhã ao sair da cama) são os tapetes que sempre levam os nossos mindinhos para perto dos agressivos móveis. Um pequeno "deslize" para que o imperceptível movimento se faça sentir de forma aguda e desesperante no desgraçado mindinho cuja única arma que dispõe é a da sobrevivência, para continuar a ser agredido.
Gostava realmente de saber o que despoletou esta guerra muda da qual os meus dois mindinhos dos pés são vítimas indefesas praticamente todos os dias. Qual foi o mindinho que hostilizou desta maneira um tapete que conseguiu mobilizar não apenas todos os outros tapetes como todos os móveis para a sua causa. Talvez um mindinho com uma unha demasiado comprida que tenha causado um buraco num tapete? Parece-me móbil insuficiente para a agressividade que todas as manhãs sinto. Talvez uma "tapeta" que tenha jurado amor eterno a um qualquer mindinho passageiro, ignorando para sempre o senhor tapete do outro lado da cama? Ou quiçá um mindinho gozão que tenha ofertado pelo natal a um tapete já com mau feitio os resquícios de uma pastilha elástica?
Não sei efectivamente a causa desta guerra muda e absurda da qual os meus mindinhos são vítimas todas as manhãs. Mas sei que ela existe, já me foi confessada por uma banquinha de cabeceira mais vulnerável, quando lhe apertei os cantos tal qual colarinhos e a obriguei a confessar-se. Foi o 7º ataque no mesmo dia e o mindinho roxo e choroso nada dizia. Foi ela que me confessou que a origem é tapetiana e efectivamente é sobre estes soldados que os nossos mindinhos são conduzidos ao seu cruel e agressivo destino.
sexta-feira, agosto 20, 2010
Agendas sem adendas
Durante anos, meses, semanas e dias fui anti-agendas, (des)organizando a minha vida ao sabor dos ventos e dos eventos, sem outras questões além do que me apetecia no momento (e totalmente independente das coisas que me esquecia no tempo). Houve inclusivé uma altura em que o fazia de tal forma sistemática e inesperada que achei por bem assumir que nunca sabia onde ia dormir em todas as noites e portanto andava sempre de saco-cama e pijama na mala do carro. E deu jeito vezes sem conta. Hoje, o saco-cama ainda lá está, o pijama já não, mas o espírito diz que ainda se mantém. As responsabilidades é que não me deixam "esquecer" de tantas coisas.
Portanto, apesar de ainda lá ter o saco-cama, tive que repensar na minha filosofia anti-agendas e render-me à evidência que preciso de uma. Bonitinha e jeitosinha, com os dias mundiais de coisas que eu não sabia que tinham direito a dias mundiais assinalados, sempre na minha mala.
Não a comprei em Janeiro, foi para aí em Março... e demorei para aí 2 meses a perceber que para apontar as coisas nas agendas, significa que elas tem que ser combinadas com antecedência. Não serve atender um telefonema "queres vir cá jantar hoje" às 20h30 e sacar da agenda para escrever. Isto significa que, se quero combinar uma coisa com alguém, tenho que pensá-la para um dia específico e não para "daqui a cadinho". Foram dois meses de treino intensivo para entrar neste novo frame mental. Quando percebi o esquema, agarrei na agenda e marquei rapidamente os meus anos em Abril. Ficou porreiro, dia 27 de Abril, "Anos". E efectivamente não me esqueci que fazia anos dia 27 de Abril.
As outras coisas que ia apontando, também não me esquecia, que as pessoas habituadas à minha falta de memória, lá mandavam sms "então, amanhã ainda se mantém?". E eu feliz, com uma agenda que não me esqueço de preencher quando assim se justifica.
Mais uns meses se passaram e metade do mundo foi-se habituando a que eu tenha agenda e planeie as semanas. O que é porreiro, porque é para isso que ela serve. Mas, como o mundo se foi habituando, as pessoas começaram a deixar de me mandar as tais sms do "então e amanhã, ainda se mantém?". E, na prática, isto trouxe-me um novo problema: é que parece que metade da ciência de uma agenda é anotar as coisas que temos para fazer, mas a outra metade é consultar a agenda para nos relembrarmos do que lá marcámos.
Espero que não demore mais dois meses até me habituar a consultar a agenda de vez em quando, ou então ainda vou faltar a muita coisa que tinha combinado...
Para começar, acho que vou marcar na agenda uma nota para consultar a agenda. Assim como assim, lembrar-me de anotar lá as coisas já consigo...
Portanto, apesar de ainda lá ter o saco-cama, tive que repensar na minha filosofia anti-agendas e render-me à evidência que preciso de uma. Bonitinha e jeitosinha, com os dias mundiais de coisas que eu não sabia que tinham direito a dias mundiais assinalados, sempre na minha mala.
Não a comprei em Janeiro, foi para aí em Março... e demorei para aí 2 meses a perceber que para apontar as coisas nas agendas, significa que elas tem que ser combinadas com antecedência. Não serve atender um telefonema "queres vir cá jantar hoje" às 20h30 e sacar da agenda para escrever. Isto significa que, se quero combinar uma coisa com alguém, tenho que pensá-la para um dia específico e não para "daqui a cadinho". Foram dois meses de treino intensivo para entrar neste novo frame mental. Quando percebi o esquema, agarrei na agenda e marquei rapidamente os meus anos em Abril. Ficou porreiro, dia 27 de Abril, "Anos". E efectivamente não me esqueci que fazia anos dia 27 de Abril.
As outras coisas que ia apontando, também não me esquecia, que as pessoas habituadas à minha falta de memória, lá mandavam sms "então, amanhã ainda se mantém?". E eu feliz, com uma agenda que não me esqueço de preencher quando assim se justifica.
Mais uns meses se passaram e metade do mundo foi-se habituando a que eu tenha agenda e planeie as semanas. O que é porreiro, porque é para isso que ela serve. Mas, como o mundo se foi habituando, as pessoas começaram a deixar de me mandar as tais sms do "então e amanhã, ainda se mantém?". E, na prática, isto trouxe-me um novo problema: é que parece que metade da ciência de uma agenda é anotar as coisas que temos para fazer, mas a outra metade é consultar a agenda para nos relembrarmos do que lá marcámos.
Espero que não demore mais dois meses até me habituar a consultar a agenda de vez em quando, ou então ainda vou faltar a muita coisa que tinha combinado...
Para começar, acho que vou marcar na agenda uma nota para consultar a agenda. Assim como assim, lembrar-me de anotar lá as coisas já consigo...
sábado, agosto 07, 2010
O planeta dos inexperientes
já o disse a duas ou três pessoas, em algum momento, em alguns momentos de conversa.
Dos escritores que gosto - e são vários e diferentes - há um que em particular acrescenta novos pensamentos ao meu pensamento. Milan Kundera, de obra mais conhecida a insustentável leveza do ser (e devia ter sido escrita com maiúsculas e posta entre aspas, deixa lá), de outras obras menos reconhecidas mas igualmente boas, de muitas filosofias e teorias que deixam marcas nas pessoas que não o conhecem.
Tem ele uma teoria acerca do planeta dos inexperientes. Diz o senhor que devia ser este o nome do nosso planeta, que somos inexperientes na vida quando nascemos, mas somos inexperientes nas emoções quando somos adolescentes (e continuamos meio inexperientes nas emoções a vida toda, acrescentaria eu se tivesse alguma legitimidade para lhe acrescentar alguma coisa), que somos inexperientes adultos, a tentar comportarmonos como adultos e velhos inexperientes sem saber que é isto da velhice. E morremos, claro, inexperientes na morte.
A inexperiencia (que leva acento circunflexo num é, apesar de neste post n parecer) causa-nos medos e insegurança. Não sabemos o que dali vem (digo eu prestes a abdicar do til na palavra não, que já me enganei 3 vezes) não sabemos o resultado, não sabemos o que nos espera, temos medo do que possa vir, temos inseguranças na inexperiencia.
E, parece-me a mim, que todos os conflitos e mal-entendidos se devem a esta espécie de miúda, esta insegurança que, desculpem lá, mas cada vez mais acho que existe em toda a gente mas numas gentes melhor escondida do que noutras, e que activa imediatamente uma série de comportamentos defensivos, desconfianças, falta de entrega e por aí fora.
Os meus problemas vem quase todos desta insegurança, dos não saber. Os meus problemas causados por mim e os meus problemas causados pelos outros que habitam o meu mundo.
Quando se pensa isto, quando se acha que "eles" estão a fazer o que fazem por inseguranças inconfessadas, o certo é que tudo ganha novos contornos.
não sei se verdade universal, se verdade pessoal... mas parece-me que vou pensar mais nisto nos próximos tempos.
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