Porque acho que ninguém se compreende totalmente. Ou sequer parcialmente. E no entanto há tentativas de tradução, as pessoas usam palavras, gestos, acções para se traduzirem, para se expressarem, para fazerem compreender o incompreensivel que elas não sabem que são. E não sei se de facto as pessoas se compreendem. Sei que se pensam, se re-definem, que se auto-impõem algumas coisas, que decidem outras, mas compreender-se mesmo... é possivel?
Os corpos são feitos de memórias e talvez de um bocadinho de futuro.
É poético e bonito, mas incompleto. Os corpos são feitos de memórias, de expectativas, de inseguranças e vontades, de músculos activos, de sangue e oxigénio, de normas sociais, impulsos biológicos, de células cujas formas só vimos desenhadas, sinapses químicas e fisicas e talvez, talvez, de alma. Os pensamentos e racíocinios abstractos começam na base física e quimica das nossas mentes que se dizem cinzentas e eu nunca vi um cérebro de ninguém e muito menos ver os pensamentos e desejos que dele nascem ou que ele origina, não sei porque processo. De neurónios e impulsos nervosos.
A linguagem - verbal e quinésica - construção social, feita de signos e significâncias, mensagem, entropia, ruído, codificação do incompreensível, descodificação em tentativa de compreensível.
Estás a ver?
Qual a compreensão possível disto?
É tão eficaz quanto tentar que uma flor e uma pedra se entendam. Ou seria mais fácil que uma flor e uma pedra se entendessem! Porque dá para perceber que sem água a flor fica com o caule amarelo e que com uma chuvada muito forte talvez a pedra seja afastada - talvez a pedra "se afaste". Como se todos os acontecimentos surgissem por vontades e acções que nem uma pedra nem uma flor têm, mas as pessoas têm, todos os dias e isso só dificulta a tentativa de traduzir aquilo que elas nem sabem o que é, o que são.
Qual é a possibilidade de uma pessoa perceber outra?
E portanto, qual a possibilidade de duas pessoas se perceberem??
- vou ali ter um grande ataque de riso, já volto.
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