Dizes, hoje tudo é outra coisa qualquer. E por detrás dos olhos escorrem-te peixes, soltos num rio de palavras que fez do céu um chão de tons de violeta.
Dizes, hoje é tudo qualquer outra coisa. E por detrás dos cabelos soltam-se pássaros que esvoaçam dentro dos lagos que te escorrem pelas mãos.
Digo que acredito nos novelos vermelhos que vejo desenliarem-se na tua boca, quando o telhado da casa da frente bate telhas para descolar-se dos muros. Escondemo-nos por detrás das janelas cegas, não sei com que cores se pinta o mundo lá fora, só tenho um lápis cor de laranja que a única coisa que diz é traço.
Foi ontem que vimos as nuvens dançar o tango? Rio-me e digo-te que não, que sabes bem que as nuvens não dançam o tango, é a valsa meu amor, com cheiro a hortelã pimenta e tempero de gengibre.
Se me deres as mãos, as duas, inventamos palavras daquelas que parecem gomas. Daquelas que não se conseguem parar de comer, umas atrás das outras depois daquelas antes de estas. E tiras um fio de novelo vermelho que ficou preso entre os dentes, olhas com admiração e espanto mas sabes que qualquer coisa é tudo, hoje.
Foi ontem que as paredes se encheram de relva do lado de dentro? Digo-te sim, logo depois daquele sino enorme ter feito as paredes da igreja velha ruir. Relva e malmequeres, respondes que sim, malmequeres, mal-me-queres.
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