by tap.
*este post não respeita o novo acordo ortográfico e não tem pena disso.
Creio que houve alguém que decidiu fazer uma pausa na necessidade de dormir e passou a noite a pintar a manhã de cinzento. Creio também que fez um bom trabalho, confesso que não sabia que havia tantos tons diferentes do mesmo cinzento. Não me chateia porque não me chateia cor nenhuma, afinal de contas todas as cores têm o mesmo direito à existência. Lá porque há outras mais exibicionistas não significa que um subtil cinzento tenha menos valor ou importância. Que seria do mundo sem o cinzento? Certamente um lugar pior, mais que não fosse pela incrível barreira entre o preto e o branco, para sempre incompreendidos um pelo outro, um para o outro.
Não que isto seja totalmente verdade ou conclusivo de alguma coisa. Ultimamente não me tem sido fácil chegar a conclusões. Nem difícil, não tenho chegado a muitas simplesmente. Mas cheguei a esta, portanto tenho alcançado algumas. Se calhar pintaram-lhes o cinzento por cima. Ou se calhar tem a ver com as palavras que se me partiram antes de sairem pelos dedos. È porque não as tenho procurado muito, ultimamente não chego a conclusões porque não tenho pensado com palavras. Tenho pensado mais com imagens e sentimentos e fragmentos de momentos que se deslargaram das letras mas ganharam cheiros e temperatura. Não estou bem certa sobre os porquês. È difícil pensar nos porquês em imagens e sentimentos, não costumam ser cinzentos os porquês, ou se calhar costumam e eu é que não lhes sei a cor. Porque é difícil pensar nos porquês em imagens, se fosse fácil saber-lhes-ia a cor.
É por isso que me faz alguma falta voltar às palavras e deixá-las escorrer pelos dedos, mas a verdade é que parece que nestes últimos tempos as palavras desabaram por mim adentro e ficaram lá no fundo meio partidas.
Nos entretantos das outras formas de pensar talvez vá ver se as encontre, mas receio dar com elas partidas e rachadas e amontoadas indistintamente. Tenho cenas e coisas misturadas, descobertas e redescobertas, é mais uma lanterna na cabeça e a falta de uma picareta na mão para tentar perceber sem ter que esgravatinhar nos muros. Racional e lógicamente, se não os derrubar, eles não caem, mas sem ser racional e lógicamente talvez assim os derrube na mesma. Afinal de contas, quanta razão e lógica existe num muro? Muito pouca, creio. Se ele não souber que esta não é a forma comum de o derrubar, pode ser que se deixe cair na mesma. Sei que não vale a pena tentar impôr ao muro a minha razão e lógica. Seria quase como estar a falar com uma parede e isso toda a gente sabe que é muito pouco útil.
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