Já fomos, já deixamos de ser, talvez estejamos de volta. Poderá ser o regresso do mito. O mito que nunca o foi.
sexta-feira, junho 14, 2013
É agosto e a terra está seca, gretada. O chão feito pó, o pó feito mundo, cheiro de alcatrão e deserto, pessoas refugiadas em paredes e casas e ares acondicionados a zumbirem baixinho, um sem número de ares acondicionados a fazerem zzzzzzzzzzzzzz e os cortinados meu amor, os cortinados desta vez abanam por de dentro das casas. As casas a fingir que respiram, as pessoas a fingirem que são livres nas prisões escolhidas, o mundo civilizado a esconder-se da natureza intrépida que reclama de garganta arranhada e seca que afinal quem ainda manda é ela e a gente a enganar-se meu amor, a gente a enganar-se entre paredes e aquários de vidro a dizer que sim, que somos tudo e fazemos tudo sem coragem para por o pé la fora. E nesta secura cai uma lágrima tua bebida pelo mundo que é pó de chão e terra gretada, gota sagrada que alivia e cura e faz renascer a vida debaixo do mesmo sol escaldante que a matou.
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