Já se tinha habituado, ao rodopio no estômago que lhe apontava o norte. De facto até era engraçado, e os amigos não estranhavam e pediam-lhe muitas vezes para mostrar a sua barriga. Brilhante e luzidia, aparecia uma seta de metal que se movia constantemente, sempre a apontar o norte. Chamavam-lhe Bussi quando estavam bem dispostos e perguntavam-lhe tudo o que não sabiam.
Assim, dias passando alegres, a procura do norte facilitada, todas as respostas na palma da mão. Ou no umbigo da barriga, melhor dizendo.
Até ao dia em que Bussi descobriu que havia um problema por explorar, o norte magnético não era igual ao norte em graus, estranhas convenções que lhe fugiam da compreensão haviam sido tomadas. E o desvio aumentava dia a dia, fruto talvez do aquecimento global, fruto talvez de outros acontecimentos mais furtuitos. Seja como for, Bussi foi-se perdendo nas noções desenraizadas da vida, deixando-se ficar cada vez mais calada e com menos direcções a que apontar.
O resultado foi mais inesperado do que ela acharia, viu-se rapidamente sozinha no mundo, sentindo-se inútil e completamente perdida. Estranha e nova sensação, Bussi sentir-se perdida. E toda a gente a quem havia dado respostas, nem um esforço para a ajudar a encontrar uma. Ainda que por ela passassem com ar de sabedoria, ainda que lhe dessem sermões como se fossem donos da verdade do mundo. Mas era uma verdade diferente que não incluia as respostas ao que Bussi perguntava.
Pensou que haveria de passar, que a solução seria esperar mais um pouco, deixar-se ficar. Quando percebeu que não iria resultar, já não podia contar com ninguém e a seta continuava sem funcionar.
Foi este o dia em que a rapariga bússola se perdeu para sempre, sem esperanças de voltar a ser encontrada. Nem poderia, uma bússola serve para encontrar, não para ser encontrada.
Estranho paradoxo insolucionável.
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