O cinema é, por definição, o lugar mágico onde os sonhos acontecem e o eterno perpetuador do "e viveram felizes para sempre...". É-o em especial nos filmes da Disney no modelo "histórias de encantar". É-o, mais ou menos, na alegre comédia romântica de domingo à tarde. Mas nestas duas formas é-o de maneiras diferentes.
Interessa-me mais a segunda, para continuar com o raciocínio, já que a Disney se quer marcada pela pureza e inocência que é característica das crianças e não dos adultos.
Ora bem, a diferença entre disney e comédia romântica é que na primeira boy meets girl, boy fight for girl, boy and girl forever together. Na segunda é mais alguém conhece alguém, alguém se mete com outro ninguém, dois alguéns e um ninguém ou mais ninguéns tem uma série de encrencas, avenças, desavenças, voltas e reviravoltas, alguém fica com alguém e ninguém talvez com outro ninguém ou talvez sim.
Segue a norma da individualidade e da liberdade, a procura primeiro do bem-estar, as não limitações, o mundo inteiro ao dispôr do meu ego, até eu perceber que o meu ego quer é aquilo e que o resto era mais passageiro.
Certo.
O sexo e a cidade começou por aí.
Elas independentes, elas com a sua própria vida e autonomia, sem limitações, toda a liberdade, todo o querer da vontade, agora soma e segue e segue para bingo que ninguém pára a Carrie e as suas amigas já que mulher não precisa de nada nem de ninguém sem ser o seu grupo de amigas igualmente independentes e cheias de garra e vontades.
Mas não acabou aí. Ao acabar, veio inverter todo o paradigma "mulher-não-precisa-de-ninguém-e-pode-ser-feliz-sozinha-ou-com-os-vários-alguéns-que-lhe-der-na-gana". E pumba, Carrie and Big forever together.
Depois apareceu o twilight. Filme para adolescentes. Sem confusões nem aldrabices. Uma história lamechas onde boy meets girl e desde o primeiro momento em que dão as mãos não mais as largam por nada. Sem sombras nem confusões emocionais, sem misturas nem mais pessoas, eu acredito em ti para sempre, tu confias em mim para sempre.
Agora aparece o Avatar. Igualmente "limpinho", desde o momento em que acasalam jamais poderão acasalar com outros. E nem se põe em causa liberdades ou falta delas, é mesmo o assumir de um compromisso à custa de tudo o resto, acima de tudo o resto.
Depois da "sociedade do consumo descartável", que levou à famosa crise económica acompanhada pela crise de valores, estaremos a caminhar para novos princípios de durabilidade?
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