Após a tentativa falhada de confecção de um bacalhau com natas, a gastronomicamente insensível foi apanhada a tentar remediar o prato que, momentos antes, fora dado a provar a Joana, a filha mais nova. (os nomes utilizados nesta reportagem são fictícios e qualquer semelhança com uma realidade perto de si é puramente acidental) .
Joana, sempre se mostrou condescendente com os "dotes" culinários da sua mãe adoptando sempre uma postura de encorajamento, fruto do seu incomensurável amor filial. Chegou mesmo “a oferecer-lhe um O Livro do Pantagruel para guiá-la nos momentos de escuridão culinária”, conta com um sorriso triste nos lábios. A sua mãe, no entanto, nunca abriu o livro e decidiu aventurar-se no novo e inexplorado mundo da culinária.
José seu marido, conta-nos como tentou evitar o sucedido “Eu vi logo que ia sair dali disparate. Quando a minha mulher põe uma ideia nova na cabeça o melhor a fazer é afastarmo-nos. Eu e a minha filha mais velha não arriscámos e comemos bifes grelhados com ovo a cavalo, mas a Joana não quis ouvir-nos…”
Mais para agradar a sua mãe do que por vontade de se submeter a tal provação Joana terá consentido no uso do seu paladar a fim de aferir a qualidade do prato. O testemunho de dor partilhado com o nosso repórter ilustram bem os momentos de terror passados por esta flha que reconhece agora a má opção de ter rejeitado o bife grelhado confeccionado pelo seu pai.
Horror, angústia e desepero foram as palavras escolhidas pela vítima para descrever a experiência: “O meu mundo, tal como o conhecia, desmoronou-se à minha volta no momento em que dei a primeira garfada. A minha mente foi invadida por imagens flash das minhas vivências passadas: recordei a minha infância, os meus pais a jogarem comigo ao peão e um dia de sol na praia.”
Com o olhar vago e os braços envolvendo fortemente o seu corpo Joana, leva-nos friamente a reviver os momentos abaladores de que foi vitíma: “A violência do primeiro contacto da pasta seca e farelenta com as papilas fungiformes despoletaram uma dor lacinante que percorreu cada centimetro do meu corpo. Senti o subtil sabor do bacalhau tentar vencer e impôr-se diante da quantidade desproporcional de batata – esmigalhada ao acaso e sem arte ”.
Desproporcional foi também o polvilhamento do pão ralado que dava ao prato um aspecto assustadoramente semelhante à cabeleira do Mick Jagger. Quase como se o cantor tivesse decidido cortar o cabelo e atirá-lo para dentro de um pirex. “Numa tentativa de esconder o que estava a sentir comecei a mastigar mais depressa para pôr termo ao meu sofrimento. Sei agora que só piorei as coisas...”. Segundo apurámos junto do Dr. Mimoso da Silva, abalizado nutricionista: “A mastigação rápida faz libertar todos os aromas e odores contidos nos alimentos exponenciando o seu sabor aos níveis máximos”.
Infelizmente a experiência não terminava ali e o preparado iniciou a sua descida em direcção ao estômago a um ritmo “morbidamente lento” para utilizar palavras de Joana. “Era como se os sucos gástricos do meu estômago estivessem conscientes do marasmo gastronómico que acabara de se instalar no meu estômago e se tivessem recusado a actuar, assim como uma greve gástrica….”
Felizmente a história de Joana tem um final feliz. Ao fim de seis longas horas de digestão de apenas 4 gr de bolo alimentar Joana conseguiu vencer a estupro alimentício de que foi alvo e o seu estado clínico é, agora, estável.
Até ao fecho da edição pudémos confirmar junto de amigos próximos da familia que o alimento se encontra agora perto do recto onde será finalmente expelido do corpo. A relação entre Joana e sua mãe também foi reatada, não sem a promessa por parte desta última de não mais entrar ou aproximar-se de uma cozinha enquanto a sua condição de culinariamente toldada permanecer.
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