- Mas de verdade que há pesca boa no Tejo?
- Claro que há menina... claro que há... deixe-me contar-lhe uma história. Comecei a pescar no Tejo, aqui mesmo à beira de Alcântara, quando tinha 7 anos. Vinha com o meu pai e tinha que ficar em silêncio o tempo todo. Mas sabe como é, a gente ganha-lhe o gosto. Assim como assim, o meu pai também era homem de poucas palavras. Não se chegava a zangar comigo quando a linha se partia. Dava-me um calduço e já está. E sorria quando eu apanhava um peixe. No Tejo há pesca boa menina, já cá apanhei uma corvina de 2,5 kl. Charroucos também aparecem. E taínhas, taínhas há com fartura. Ás vezes também aparecem robalos menina, às vezes também aparecem robalos, mas aparece mais vezes lixo. Há muito lixo no Tejo menina, imagine que o outro dia vim à pesca e apanhei com uma multa. Que são precisas licenças, que é preciso ir tratar de papéis, no tempo do meu pai não havia nada disso. Hoje em dia apanha-se mais lixo desse. Bu-ro-cra-cia chamam-lhe os especialistas, é lixo é o que é. E ali mais abaixo costumava estar outro pescador todas as manhãs de sábado que já não vem por causa disso, apanhou uma burocracia tão grande que desistiu disto. É triste menina, a gente desistir das coisas que gosta por causa dos entraves que encontramos.
Mas também se apanham coisas melhores agora. O outro dia apanhei um bocadinho de nostalgia, mas coisa miúda, coisa miúda. Fui dar com um antigo companheiro lá da escola, veja lá menina, está na frança mas veio cá uns dias e teve que vir ao tejo. Ainda deu para desenrolar umas histórias e apanhar umas lembranças. Também cheiram a peixe as lembranças, mas não só. A pão acabado de fazer ou a cozido nos dias de festa.
É.. é verdade que ainda há pesca boa no tejo menina. Se não a gente já não vinha para aqui... e às vezes até aparecem robalos.
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