terça-feira, março 11, 2014

A menina que comia arco-íris

Não tinha cor preferida, gostava do amarelo e do verde, do azul, do cinzento, do rosa ou vermelho, a qualquer hora, em qualquer dia. Isto era o que ela explicava quando lhe perguntavam de ar assombrado, mas a sério que comes arco-íris?

Vinha-lhe de pequena esta estranha mania - e são deliciosos, devias provar! - e mesmo que os pais lhe ralhassem de nada servia. Mas oh mãe, eu gosto tanto, eu sei querida mas daqui a nada vamos almoçar e depois não tens fome, e de olhos desiludidos limpava o azul do lábio inferior e guardava o resto do amarelo para comer à sobremesa.

Os amigos perguntavam-lhe, mas tu não sabes que o bom do arco-íris é que podes encontrar um pote de ouro no fim? e a menina sorria e dizia que tu é que não sabes o bom do arco-íris, é o começo e o meio e o fim... o fim só serve para deixar um gosto doce na boca e a gente com vontade de comer mais.

Quem não a conhecia tomava-a muitas vezes por pintora ou artista de algum género, manchas de cores várias nas mãos e às vezes uma ou outra nódoa na camisola - olha sujaste-te a pintar hoje na escola - e ela nem negava que às vezes os arco-íris pingavam e nem sempre havia um guardanapo no bolso para a ocasião.

Foi quando soube desta história que percebi de onde lhe vinha o brilho nos olhos e a alegria que trazia nos bolsos e agora quando a vejo de vez em quando toda deliciada, a mastigar discretamente e sem barulho, não consigo não sorrir porque já me contou do seu segredo.

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