sábado, janeiro 20, 2007

O salteador da arca frigorifica

Quase meia-noite: hora de acção. Um vulto prepara-se com extremoso cuidado. Os sapatos de borracha, inaudíveis. A gabardine preta, camuflagem nocturna. O gorro preto que segura e afasta a franja dos olhos, nada poderá falhar. A lanterna é segurada por uma mão não tão firme quanto o que seria de desejar mas é só uma questão de controlo.

Começa a saga, respira-se fundo, a hora urge, o tempo é agora. Passa a porta, quase que nem respira. Desce as escadas, estudou-as tempo suficiente para saber de cor quais os degraus que rangem. A mão nem toca no corrimão, nem é preciso. Já no hall não hesita, sente as faces afogueadas e a excitação de quem está prestes a alcançar o objectivo. Entra na cozinha, o percurso decorado. O frigorífico espera-o, impávido e branco, altivo e cru. Abre a porta, estalito característico das diferentes pressões, acende-se a luz de dentro. Suspende o tempo, suspende a respiração, será que alguém ouviu? Parece-lhe que não, agarra o iogurte líquido, já nada poderá falhar agora...

- ANTÓNIO!! O que tás a fazer na cozinha a esta hora?
- Vim comer um iogurte.
- Mas porque não mo pediste filho? Eu comprei-os para ti!
- Oh mãe... porque eu gosto de viver no perigo!

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