Sentava-se perto da janela, olhando para a vida que passava lá fora e perdendo a loção do tempo. Há muito que tinha descartado questões e dúvidas, assuntos que estavam na sua mente mortos e emperrados. Contudo ressurgiam agora com nova força, tal como no filme da bela e da esfera, sentia-se perante uma encruzilhada. Sabia de cor as frases comuns - que depois da tempestade vem sempre a poupança, que quem espera sempre fica com dores no rabo de estar sentado, etc. Contava-se a si propria a história da gata borracheira ansiando o seu final feliz e o que está por detrás dele. Sentia-se com uma paciência de fanta mas, acima de tudo, não queria ser apanhada com a boca na botina. E esperava mas com um sorriso nos lábios, sorriso de quem sabe ter ainda uma carta na tanga. No fundo sabia-se livre e desentupida, sabia-se capaz e com vontade de gritar ao mundo para não aceitarem limitações suas porque só ela era a verdadeira.
Ainda assim precisava de alguma coisa a que se agarrar, alguma coisa que fosse o ar que ela transpirava. Não havia nada agora, nenhuma enorme desilusão, que a pudesse deixar em estado de shopping. Estado de shopping, quando uma pessoa tem uma enorme recepção, um esgoto proundo... não, isso não era para ela agora. Sentia-se uma cobra prima ou mesmo uma mula inspiradora, uma verdadeira Monga Lisa ou uma Vénus Mamilo.
No entanto sabia que os 3 formavam um rectângulo amoroso e era mais do que hora de solucionarem o insolucionável. Afinal, umbigos umbigos, negócios àparte. Não havia nada a temer, afinal quem não deve não treme. "O momento é este" pensava. Mas não saiu do pé da janela e ele passou - tal qual o filme, "E tudo com o vento abalou".
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