supermodernidade, em vez de pós. Por causa das vertigens aceleradas no tempo, das velocidades incansáveis e das cidades que deixaram de dormir, por causa dos excessos. Tudo não chega, há mais além desse tudo, quero o que sobra de fora desse tudo. As cidades não dormem e tornaram-se sonâmbulas nas suas próprias esquinas, ilimitadas pelas possibilidades, dependentes dos seus não-lugares físicos.
E no entanto, no frenético excesso, os dias seguidos são espelhados, as semanas vizinhas idênticas, os meses fronteiriços praticamente iguais. Mas e os outros, mais afastados? 3 meses, e tudo muda. Dos anteriores 6? Não existe hoje nada. Nem vestígios, nem resquícios - uma ou outra memória meio desfocada que nem parece real. Ou se calhar é o hoje que não é real, ou se calhar foram duas existências paralelas, independentes, que nunca se cruzaram. Não pode ser, teve que haver continuidade obrigada pelo traço do tempo. É assim que a vida funciona, é assim que a lógica obriga. Teve que ser, teve que ser, teve que ser - se for dito muitas vezes pode ser que me acredite. Mas olho para tras e não vejo pontos de viragem. Estarão escondidos debaixo de algum tapete? Seja como for, é impossível um regresso.
Os regressos são sempre impossíveis, pela velocidade intransigente, o sentido é só um e é para ali, pára aí. E no entanto, todos os dias são espelhados, todos os dias são idênticos e todos os dias te sentes a regressar a casa. E anseias, em alguma parte do dia, esse momento em que chegas e anúncias a chegada, o regresso a casa, o retorno ao sítio de onde és, onde pertences. Mas os regressos são impossíveis. Será ilusão?
Só pode ser ilusão, pela vontade, pelo desejo de que seja um regresso. Como se se pertencesse a algum sítio. Daqui a 6 meses podes nem reconhecer a mesma casa, quando fores sair à noite e a encontrares pintada e arranjada de maneira diferente, com gestos diferentes, novo corte de cabelo e novas manias e palavras. Pode acontecer. Pode não acontecer. No entretanto, mantêm-se a ilusão, porque sabe bem.
Não me posso esquecer disto, que é ilusão, que os regressos não são possíveis... não me posso esquecer disto mas... está-me a saber bem.
1 comentário:
Os regressos são impossíveis ... talvez só possamos estar, devamos tentar estar, em cada momento, actual. Não no próximo, não no "mais", não no máximo que o futuro nos possa oferecer, mas no que "é", aqui e agora. Talvez assim levemos o "agora" sempre connosco.
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