Em Cáceres há vestígios pré-históricos e em várias escavações foram encontradas pinturas de mãos humanas com a particularidade de ter o dedo mindinho amputado. Mas essa não é a nossa história de hoje (poderá ser a de amanhã, talvez).
A lenda que vos quero contar é a do farol de Cáceres, ou melhor, de Norba Caesarina, como se chama no século I a.C., e fazia parte do império romano.
A maior parte das lendas que chegam aos nossos dias, são histórias de amor. Curiosamente, não é o caso desta, já que o farol de Cáceres não foi erguido por motivos tão sentimentais.
Conta-se que em Norba Caesarina (Cáceres) habitava um rapaz novo e forte, que fez fortuna com porcos. Não só os comercializava nos grandes mercados romanos, como ainda tinha a estranha habilidade de os tratar em doenças que os outros romanos achavam já serem uma sentença de morte.
O rapaz, grande conhecedor de porcos e das suas habilidades, possuia vários, de várias raças e feitios. E vivia feliz entre o pastoreio dos porcos, a sua venda e o acolhimento de porcos tão doentes que em qualquer outro sitio morreriam. Ao aumentar a sua fortuna e ao receber porcos doentes que miraculosamente se salvavam, era o maior guardador de porcos da região.
Lidar com porcos tem destas coisas, as trufas e as escavações são frequentes. Então, um dia de manhã ao levantar-se e ao sair de casa para o habitual pastoreio dos seus porcos, o rapaz caiu num grande buraco por eles escavado, mesmo em frente à porta de casa. Ficou irritado com o buraco, mas rapidamente prosseguiu a sua vida e os seus afazeres.
Ao segundo dia, acordou cedinho pela manhã, saiu de casa sorridente e feliz e, esquecendo-se do buraco, voltou a cair nele.
Irritado pensou que tinha que tratar daquele buraco.
Ao terceiro dia espreguiçou-se, tomou o pequeno-almoço e saiu de casa para os seus afazeres. Caiu novamente no buraco.
Pensou, isto não pode voltar a acontecer, e ao quarto dia quando acordou lembrou-se, há um buraco à porta de casa. Não tomou banho, que não era costume dos romanos, mas tomou o seu pequeno-almoço e saiu de casa e voltou a cair no buraco.
Ao quinto dia, depois do pequeno-almoço lembrou-se, há um buraco à porta de casa, há um buraco à porta de casa, há um buraco à porta de casa e enquanto pensava que havia um buraco à porta de sua casa, caiu nele.
Ao sexto dia parou ao sair de casa e repetiu, há um buraco à porta de casa, e olhou para ele e sorriu. "Desta vez estou-te a ver" e um porco guinchou e o rapaz assustou-se e caiu no buraco.
Nessa tarde ao voltar a Cáceres pensou que a melhor maneira de no dia seguinte se aperceber do buraco era construir um farol que o iluminasse. E assim fez, numa tarde construiu um pequeno farol, colocou-lhe uma candeia e foi dormir, seguro que no dia seguinte não cairia no buraco.
Ao sétimo dia olhou para o farol, lembrou-se do buraco, tomou balanço e saltou por cima do buraco. O balanço não foi suficiente e o rapaz caiu novamente nele.
Ao oitavo dia, olhou para o farol, lembrou-se do buraco, tomou balanço e saltou por cima dele. Os pés bem assentes no chão, o buraco atrás e o rapaz tão contente que saltou e saltou de alegria... até cair no buraco.
Ao nono dia, o rapaz olhou para o farol, lembrou-se do buraco, tomou o balanço certo e saltou por cima do buraco. Lembrou-se do dia anterior, deu 3 ou 4 passos para a frente e saltou de alegria porque sabia que jamais voltaria a cair no buraco.
Ao décimo dia o rapaz acordou de manhã e espreguiçou-se, contente com o feito do dia anterior sabia que não cairia de novo no buraco, o farol cumpriu a sua missão. E foi quando se apercebeu que, a partir dali, se calhar era mais sensato sair pela porta da frente em vez de pela porta de trás.
Os anos passaram e o rapaz morreu. O farol foi reedificado muitos anos depois, no mesmo sítio, para nos relembrar que os seres humanos tem capacidade de raciocínio e aprendizagem com os erros, mas mais ou menos.
Aqui fica a história e a imagem do farol de Cáceres, fotografia tirada da sala da minha amiga Fresquinha. Obrigado pelos dias ai.