quarta-feira, dezembro 27, 2006

Podia ser uma lição de moral

mas gosto mais de lhe chamar uma "pérola". Leiam-na, guardem-na e conservem-na para quando precisarem.

Em matérias de importância, conta mais onde se investiu mais. Em tempo, em carinho, em atenção.

Porque o sistema capitalista é a sociedade onde estamos inseridos e, quer queiramos ou nao, isso reflecte-se em todo o lado.

sexta-feira, dezembro 15, 2006

20 mil éguas submarinas

Há uma hora certa que começou a sair gente para a rua. Há uma hora certa que olhas a janela e te recusas a abandonar o quentinho dos cobertores.

5 mil éguas.

Há uma hora certa que a rua fervilha de gentes aos encontrões em outras gentes - metros, autocarros, cafés, conversas, dentes brancos sorridentes, caras cinzentas e fechadas, correrias, atrasos.

10 mil éguas.

Mais tempo, mais gente, mais corrida. Gente que se encontra e se cumprimenta, gente que se desencontra e que não tenta, gente que tenta, desatenta.

15 mil éguas.

Um mundo que gira cheio de gente gira que suspira, que atira ao calhas, tu que falhas ou não falhas, tu que sentes, que te mentes, que desatinas, atas e desatas, tu que estás sem estar.

20 mil éguas.

Afinal, o que te falta?

Súfocas, súbmerges, súbmarinas?

terça-feira, dezembro 12, 2006

A verdadeira (e trágica) História da CaroCinha e do João Ratão

Era uma vez uma Carochinha de longos cabelos loiros, fruto das madeixas em voga apesar de contrastantes com as sobrancelhas pretas, e compridas unhas arranjadas, daquelas com desenhos de flores e até um "piercing" no indicador da mão esquerda. Andava na casa dos vintes a nossa Carochinha, de revista cor-de-rosa debaixo do braço a caminho da Universidade Religiosa lá do sítio, reconhecida internacionalmente pelo seu prestígio em educação e nacionalmente pelas meninas do género CaroCinha Quintaleco que por lá debutavam.

Ora a nossa CaroCinha, menina polida e bem encabelada pela ajuda das extensões de cabelo natural, não tinha muitas preocupações na sua vida. Quer dizer, até tinha algumas arrelias que tomavam porporções pérfidas na sua artificialmente dourada cabecinha mas, em termos de vida, a coisa até estava bem planeada. Tinha nascido para o sucesso a CaroCinha. Os pais, senhores educados e cultos, haviam-se esmerado por uma educação cheia de princípios e méritos. E mérito não faltava à CaroCinha, tinha até dois - um belo par de méritos - se me faço entender. Esse par de méritos sempre a havia levado pela vida como que flutuando num balão de ar quente (ou quiçá dois!) tranquilamente esvoaçando por cima de dores de cabeça comuns. Assim, estava a nossa CaroCinha prestes a terminar o curso com uma média invejável. E o futuro, que a Deus pertencia, avizinhava-se trazedor de inúmeras e felizes peripécias, todas cor-de-rosa e com cheiro a Grannel Nº5.

Uma dúvida assolava no entanto a cintilante cabeça de CaroCinha: quem iria ser o seu iate do amor, fonte de inesgotável carinhos com a forma de diamantes, parceiro na saúde e na doença tratada nos melhores hospitais, o seu fiel acompanhante contra todas as vicissitudes da vida que por vezes assumem formas verdadeiramente atrozes de porteiros ignorantes que ocasionalmente a barravam à porta das únicas discotecas onde valia a pena entrar? Porque amante-amante ela até já tinha mas o motorista só servia mesmo para as quecas e vamos ser realistas, "amor e uma cabana nem à canzana".

Logo, haveria que arranjar esbelto princípe que a ajudasse com o futuro. Resumidamente, apareceu o otário do Johnny Rater que até era endinheirado apesar de esbelto princípe não ter mais nada e o motorista não se aguentou com os ciúmes. Felizmente já se tinha assinado tudo o que é papelada de comunhão de bens e afins.

Mais uma vez, Taparuere em serviço público de trazer a verdade dos factos a quem deles quer saber!

segunda-feira, dezembro 11, 2006

Recuperações (Agosto 2005)

Divagações.

Olhava em frente, fixa num qualquer ponto indeterminado. Cliché, não, não é isto que quero. Mas é mais facil assim, esperem só um bocadinho.

(respiro fundo)


A cabeça inclinada sobre um guardanapo de papel onde escrevia fervorosamente. (Fervorosamente... existe? É assim? Palavra feia). A imperial à sua frente ia morrendo, lentamente. A caneta seguia o seu caminho, determinada (gosto!) num papel demasiado fininho para o fervor. Fininho e pequeno, acabou-se. Dobrou-o em quatro depois de ter posto a tampa na caneta e meteu-o no bolso. Agarrou a imperial mas não lhe sentiu o fresco e olhou longamente em volta. A esplanada cheia, entardeceres de verão. (Está a melhorar, mas agora estou a fugir do assunto que me interessa. argh.)

As pessoas em seu redor, estava demasiado longe das suas gentes para ter ali alguém conhecido. E no entanto os rostos não lhe eram estranhos, as vestes, os estilos. Os gestos. As pessoas, na procura da unicidade individual (sim, gosto de redundâncias) será que nos damos conta de que somos mesmo todos iguais? Quer dizer, uma esplanada num entardecer de verão tem rostos parecidos em vestes iguais com gestos repetidos. (Ok, não era por aqui que eu queria ir, não era nada disto que eu queria dizer. Ainda se dá a volta, esperem lá).

De facto as pessoas agarram-se às convicções que criam e mais nada. O papel ficou guardado, duas frases que ressoam: "Em matéria religiosa, não acredita quem quer, acredita quem pode"; "Cria uma reputação confortável e mantém-te nela".

Há coisas que fazem tanto sentido que de repente não fazem sentido nenhum. São daquelas coisas que se acredita mas de que se duvida. Por vontade de duvidar, por necessidade de acreditar.

Pede a conta e paga, a mala ao ombro e a chave do carro na mão. É hora de mudar de poiso, mudar de esplanada. Para outra qualquer igual a esta.

(Não era bem isto não... paciência!)

sexta-feira, dezembro 08, 2006

Os Dias e as Noites (ou as noites nos dias)

Já foi muita coisa sim, menos do que a que há-de vir mas que não sabemos o que é.

Pelo meio muda-se, transforma-se, evolui-se. Em todo o lado, por todos os lados agora, somos postos em cheque. Enconstam-nos à parede, procuram ver de que fibra somos, procuramos responder da forma que achamos e descobrimos que afinal não era bem aquilo.

Um bocadinho de medo, um bocadinho de angústia, um bocadinho de excitação, completamente perdidos à procura de um refúgio ou de uma pausa - mas a corrida ainda agora está a começar.

Por todo o lado procuramos defesas: porque está dificil para todos, porque nunca houve nenhuma geração que tivesse que superar tanto e provar tanta coisa ao mesmo tempo, porque poderia estar pior, olha este e aquele e o outro... E é verdade, é tudo verdade, mas justificar não chega para podermos cruzar os braços e ficar a olhar.

Por outra via, também nunca houve tanta hipótese de escolha e tanta consciência do que somos, do que queremos ser e dos porquês...

E a corrida ainda agora começou. Vamos lá minha gente, que nos enconstem facas à garganta e nos questionem a fibra, que nos provem mil vezes que estamos errados e que (ainda) não somos aquilo que queremos. É para isso que estamos aqui, é por isso que vamos crescer mais e ser melhores do que todos os outros.

(Para toda a minha gente da UCP e o resto da minha gente out-UCP mas com o diploma nas mãos e a olhar para ele com ar interrogativo)