segunda-feira, dezembro 22, 2014

questões de fé

eu era capaz de acreditar que tu consegues, pondo os dois pés no chão com muita força, fazer abrandar o mundo da sua vertigem egoísta. eu era capaz de acreditar que te basta querer para fazer o tempo passar mais devagar, capaz de acreditar que as ondas do mar se espaçam para que tu mergulhes, como se até o oceano suspirasse só com a ideia de te abraçar. eu era capaz de acreditar que tu trazes o verão debaixo da pele, que esticas os braços para trazer ou afastar nuvens, conforme precisa quem se fica pouco acima da tua cintura. eu era capaz de acreditar que há sonhos enrodilhados no teu cabelo e que os veria se pudesse entrelaçar nele os meus dedos enquanto te deixas adormecer. eu até era capaz de acreditar que emprestas o teu cheiro aos raios de sol nos dias frios de inverno e que as lareiras existem para tentar recriar o carinho e calor que se sente quando se responde a um sorriso teu. eu era capaz de acreditar que a hora em que a noite se faz dia tem o mesmo nome que tu e que os pássaros emigram porque foste tu quem os ensinou a voar.

eu era capaz de acreditar que as razões do mundo tem mais a ver contigo do que com física ou ciência ou química e que a religião, digo a fé, nasceu na verdade de um toque suave da ponta dos teus dedos. eu era capaz de acreditar nisto tudo, mesmo sabendo que tu não. 

sexta-feira, dezembro 19, 2014

Historinhazinha

Sempre havia sido sozinho na vida.
Saiu de casa cedo de mais, aprendeu a desembaraçar-se cedo de mais, entendeu que nem ás paredes se contam segredos mas que é dentro das suas quatro paredes que existe o maior sossego desta vida. No entanto, foi só depois de adulto, depois de se ter apaixonado e juntado trapinhos, que percebeu enfim o que era realmente a solidão.

quarta-feira, dezembro 17, 2014

4328 Horas

Onze mil, quinhentos e vinte e quatro dias de vida. Mais dia, menos dia, não sou boa de contas e também não me lembro deles todos.

Quatro mil, trezentas e vinte e oito horas, mais hora menos hora, não sou boa de contas e também não estiveste em todas elas. Dentro destas horas couberam cento e setenta e seis marés - mais maré menos maré - que levaram e trouxeram seiscentas e vinte e três mil, quatrocentas e cinquenta e duas ondas. É muita onda, ainda para mais porque só vimos umas dezenas a rebentarem-se-nos ao pé.

Foram 72 horas de lua cheia o que daria três dias inteiros de lua cheia, mas é uma parvoíce porque toda a gente sabe que foram antes 6 noites, que é como quem diz, 6 “meios-dias”. Seis “meios-dias” de lua cheia e nem 2 minutos de consciência dela. 
Mas não faz mal, hão-de haver mais porvir. 
Afinal de contas, a lua existe desde que o mundo é mundo, toda a gente que existe, toda a gente que já existiu, toda a humanidade desde os primórdios olha, de vez em quando, para a mesma lua. E normalmente suspira. Também há quem sorria.

Dois frascos de perfume, mais coisa menos coisa, porque lá em casa ainda sobra o cheiro agarrado aos tecidos. Uma mão cheia de gargalhadas, outra mão cheia de lágrimas, temos duas mãos, que mais haveria para agarrar em cada uma delas?

Oitenta e seis mil, quatrocentas e vinte e três canções, mais canção menos canção, e destas oitenta e seis mil e muitas há 3 que podíamos cantar em conjunto. Sem que mais ninguém ouvisse, que eu canto mal que dói.


Mil quatrocentos e 96 caracteres, agora mais uns quantos, e na verdade não há nem uma frase ou palavra que te saiba dizer. Mas há mais dias, e horas, há mais marés cheias de ondas, haverá mais “meios-dias” de lua cheia, frascos de perfume, canções e caracteres. 

E, se calhar, nem serão tão diferentes dos que existiram dentro das quatro mil, trezentas e vinte e oito horas, passadas na mesma margem de dois rios diferentes – o da ilusão e o da fé. 
Quem diria que não eram o mesmo.