quarta-feira, setembro 29, 2010

Artigo de auto-(des)ajuda

Os livros e artigos de auto-ajuda, auto-espiritualidade, auto-equilíbrio, auto-guias e auto-móveis vieram para ficar. Um verdadeiro sucesso de prateleiras, uma companhia exímia para a almofada cor-de-rosa debroada a renda branca.

Não quero ficar atrás nesta corrente milagrosa que tantas vidas e coraçõezinhos partidos salva. Quero e vou escrever o meu 1º artigo de auto-(des)ajuda. Sotaque de português do Brasil e apelos directos a um "você" para entrar na linguagem certa:


Você quer ser feliz?

A felicidade está ao alcance de qualquer pessoa.
Para ser feliz, você só precisa mentalizar-se que é feliz.
Olhe em sua volta e procure essa felicidade.
Olhe para todo o lado, mesmo para os sítios onde estão as coisas que lhe trazem a infelicidade.
Pode olhar para o sítio onde estão as contas para pagar ou para o saldo negativo do seu cartão. Olhe e sorria, você tem cartão e contas para pagar! Pertence aos 80% da classe média, sua trupe é a maior da sociedade! Você está integrado socialmente!

Olhe também no espelho para a sua cara envelhecida e não tenha medo de suas olheiras cada vez mais marcadas. Você não está ficando velha não, você está é arranjando forma de dizer "hoje não posso ir trabalhar, estou doente" sem que ninguém desconfie que não é verdade. Basta olhar sua cara.

Procure ver o lado bom das coisas... está certo que engordou um pouquinho nestes anos e que seu marido não pega mais em você, mas essa sua barriguinha pronunciada e esse seu pneu balançante demonstram o como você não passa fome nunca. Nem por 10 minutos. Quer maior felicidade do que não passar fome?

Pode parar para pensar no seu marido, está bem, ele não lhe toca há mais de 5 meses mas e daí você já não tem que seguir inventado dores de cabeça que não tem, né? Não mais mentiras dessas, afinal, libertou-se do grande peso da mentira e está mais no caminho de ser feliz!

E seus filhos, são mesmo uma desilusão? Mais uma vez, veja o lado positivo, você só está a conseguir dar-lhes a liberdade de escolha e de identidade que seus pais nunca deram para você, nem hoje em dia, quando ainda a tratam como uma criança.

Viu como é fácil?
Sua vida é feliz, você só tem que enxergar o lado certo!


*Texto escrito por taparuere, feliz desde 2009, palestrante para quem quer escutar desde 2010, sempre ofertando sua sabedoria gratuitamente em ruas, praças e becos.

sábado, setembro 25, 2010

terça-feira, setembro 21, 2010

Jacques Derrida On Love and Being

Para ver o filme, tem que ser no youtube.

Mas isto levanta-me outras questões e penso que há ainda outra hipótese que o senhor não considera. Uma mais egoísta e menos bonita, mas a parte de amarmos alguém por aquilo que esse alguém nos "dá". Não materialmente, mas ainda assim, nos "dá", desde a forma como nos faz sentir à evolução que em nós provoca quando tentamos ser para esse alguém também aquilo que ele precisa...

Ou então não, sei lá.

terça-feira, setembro 14, 2010

segunda-feira, setembro 13, 2010

Manual de instruções para aquisição e manuseamento de uma "ralação" amorosa

Antes de adquirir uma "ralação" amorosa, aconselha-se uma exaustiva pesquisa de mercado. Podem e devem ser utilizados vários conhecidos métodos: benchmarketing, recolha de informação directa e indirecta, comparação de opiniões diferentes, consulta de informações oficiais e não-oficiais, pesquisas on e off-line.

Após a escolha do material mais adequado às suas necessidades e competências, terá que proceder à aquisição do mesmo. Para o o conseguir será necessária uma preparação prévia.

Procure zonas de humidade em várias áreas do corpo, tal como debaixo dos braços e elimine-as. Use uma toalha limpa para a sua remoção e proceda cuidadosamente à troca de t-shirt ou camisa por uma nova. Em seguida, diminua a intensidade dos seus odores corporais. Para tal, pressione intensamente o botão situado na parte de cima do seu desodorizante em spray.

Aconselha-se ainda o uso de pastilhas de mentol em todo e qualquer caso, sendo esta uma medida de prevenção genérica sem contra-indicações conhecidas.

Seguidamente, deve proceder ao contacto com a sua futura nova "ralação". Procure o contacto visual, utilizando os seus dispositivos ópticos para se alinharem com os dispositivos ópticos alheios. Ambos os dispositivos devem encontrar-se alinhados, sem qualquer objecto exterior no meio. Precaução: o alinhamento dos dispositivos ópticos deve ser acompanhado por um levantamento cuidadoso das zonas externas dos cantos da boca. Em caso da boca permanecer totalmente imóvel neste passo, considere abortar o plano e recomeçar este manual a partir do seu início.

Se o alinhamento dos dispositivos ópticos, acompanhado pelo levantamento cuidadoso das zonas externas dos cantos da boca tiver sido bem sucedido, haverá a repetição do mesmo por 4 a 5 vezes. Os objectos encontram-se então alinhados e devidamente preparados para o passo seguinte.

Para o passo seguinte será necessária a utilização da energia oral e vocal. Implica uma preparação prévia do instrumento situado na zona interna do pescoço conhecido por "leve tossido". Deste movimento resulta a libertação de alguma expectoração aprisionada na zona interna do pescoço e de uma agradável clarificação do instrumento sonoro voz. Use este instrumento para dirigir algumas palavras sensatas à sua futura "ralação". Não abuse deste instrumento numa primeira fase.

Se tiver recebido um sinal sonoro recíproco, pode proceder para o passo seguinte.

Para o passo seguinte, comece por assegurar-se da sequidão das ferramentas mãos. Limpe-as adequadamente e discretamente na parte superior traseira das suas calças. Repita o movimento as vezes necessárias até ter a certeza de que não sobram humidades. Em seguida, utilize as suas ferramentas mãos para certificar-se do bom estado do material em apreciação. Manusei-o com cuidado: toques discretos na zona braço para começar. Toques superficiais e discretos são um bom começo, procedendo gradualmente a uma apreciação do estado do material mais intensiva.

Quanto mais intensiva se for tornando a apreciação do material, mais perto estará da aquisição da sua futura "ralação". Chegará por ventura o momento em que o material avançará na sua direcção procedendo ao sinal positivo conhecido pela junção de lábios em biquinho. Este movimento indica que pode pousar os seus próprios lábios nesse biquinho.

A partir daqui, o manuseamento da sua nova ralação amorosa é por sua conta e risco, não se responsabilizando este manual por qualquer defeitos de utilização posterior ou anterior.

Em seguida, passe à acção.

sábado, setembro 11, 2010

Disseste-me uma vez que tenho muito boa capacidade de analisar situações e que consigo compreender muito bem as pessoas. Disse-mo mais gente também, em várias maneiras e formas. Compreender as pessoas. Precisava agora de uma definição mais objectiva deste verbo e das suas origens. O que será de facto compreender?
Porque acho que ninguém se compreende totalmente. Ou sequer parcialmente. E no entanto há tentativas de tradução, as pessoas usam palavras, gestos, acções para se traduzirem, para se expressarem, para fazerem compreender o incompreensivel que elas não sabem que são. E não sei se de facto as pessoas se compreendem. Sei que se pensam, se re-definem, que se auto-impõem algumas coisas, que decidem outras, mas compreender-se mesmo... é possivel?

Os corpos são feitos de memórias e talvez de um bocadinho de futuro.

É poético e bonito, mas incompleto. Os corpos são feitos de memórias, de expectativas, de inseguranças e vontades, de músculos activos, de sangue e oxigénio, de normas sociais, impulsos biológicos, de células cujas formas só vimos desenhadas, sinapses químicas e fisicas e talvez, talvez, de alma. Os pensamentos e racíocinios abstractos começam na base física e quimica das nossas mentes que se dizem cinzentas e eu nunca vi um cérebro de ninguém e muito menos ver os pensamentos e desejos que dele nascem ou que ele origina, não sei porque processo. De neurónios e impulsos nervosos.

A linguagem - verbal e quinésica - construção social, feita de signos e significâncias, mensagem, entropia, ruído, codificação do incompreensível, descodificação em tentativa de compreensível.

Estás a ver?

Qual a compreensão possível disto?

É tão eficaz quanto tentar que uma flor e uma pedra se entendam. Ou seria mais fácil que uma flor e uma pedra se entendessem! Porque dá para perceber que sem água a flor fica com o caule amarelo e que com uma chuvada muito forte talvez a pedra seja afastada - talvez a pedra "se afaste". Como se todos os acontecimentos surgissem por vontades e acções que nem uma pedra nem uma flor têm, mas as pessoas têm, todos os dias e isso só dificulta a tentativa de traduzir aquilo que elas nem sabem o que é, o que são.

Qual é a possibilidade de uma pessoa perceber outra?
E portanto, qual a possibilidade de duas pessoas se perceberem??

- vou ali ter um grande ataque de riso, já volto.

sexta-feira, setembro 10, 2010

Nem sempre sei a importância relativa que as coisas devem ter na minha vida. Sei sempre a importância absoluta que têm.

É fácil gozar com frases que começam com "um sorriso..." e acabam em reticências. Mas é tão fácil gozar com elas quanto é fácil olhar em volta de uma mesa quadrada onde está mais gente do que as gentes que deviam caber e sentir-se em paz.

Durante toda a minha vida tive a sorte - ou o azar! - de sentir que tinha vivido um bocadinho mais do que as pessoas que me rodeavam. e não foi pouco, e não é pouco, diga-se.
Até ter tido o azar - ou a sorte, tanto a sorte..! - de sentir que vivi mais diferente do que outras pessoas me mostram as vidas delas. E ter pessoas assim na nossa vida é aumentar o nosso mundo de uma forma exponencialmente potencial.

Olhando para cada uma de vocês - desculpem lá pah - é ver as diferenças que vos unem. E são tantas! Em personalidades tão fortes há duas marcas: 1ª - como é que vocês se aguentam??? 2ª - como é que eu me vou aguentado num "fazer mais ou menos parte?"

seja lá como for, obrigado por enriquecerem a minha vida. Durante 3 anos, claramente, e espero que mais uns 30, pode ser? Ajuda-me a ter os pés assentes na terra. Ainda que vocês me mostrem que a terra onde assento os pés não é nem nunca foi a única terra que existe.



(claro, estou a tentar não ser melodramática)

quarta-feira, setembro 08, 2010

Can you hear it Vicki? I want to say. It ‘s not
words, it’s nothing so coherent as words. It’s
all of us, hoarse with calling, straining in the
darkness to hear something we recognize as
our names.

Cate Kennedy from the story A Pitch Too High for the Human Ear

terça-feira, setembro 07, 2010

Agarra-te ao ar, crava-lhe as unhas, faz do vento tua âncora. Nunca precisaste de rede, nunca tiveste apoio, que imobilidade é esta que agora te amordaça as mãos?

Pensas que antes houve um tempo em que sabias, mas houve-o de facto? Recordas um passado tão longíquo que quase parece outra vida paralela, talvez um filme que tivesses visto há tanto tanto tempo que os pormenores soam desfocados, uma altura de acções... mas e respostas?
havia-as de facto?

Talvez sempre tenha sido assim. Talvez sempre tenha sido nas incertezas que os movimentos se desenharam em redor de pouco mais do que vontades ancoradas no vento. O que tinhas então que agora perdeste? Ou que foi que ganhaste agora que tanto temes perder?

Em alturas de maior lucidez, um sorriso.
Nada disto importa.
Nem as tuas respostas
nem a falta delas
nem o que decides fazer
nem o que não fazes
nem a tua vida
nem nenhum segredo sussurrado
nem nenhuma conversa inacabada
nem nenhum gesto tocado

Como pôde ser? (Foi como foi, deslarga, deslarga, deslarga).