quinta-feira, janeiro 28, 2010

Falar é fácil. O difícil é mostrar.

E nem devia ser, porque era só uma questão de pensar nas coisas e ser coerente. Mas devo ser eu que exijo demais, pedir alguém para mostrar aquilo que diz. Mas era só fazer sentir aquilo que se diz... e voltamos a dois posts abaixo deste.

Não vejo maneira de sair desta cepa torta.

Pelo meio entre fazer um e não fazer o segundo, só se gastam as palavras. E depois só fica o que o Géninho* tão bem diz que fica.



*Géninho para os amigos, Eugénio de Andrade para os outros.

terça-feira, janeiro 26, 2010

É sempre, dos encontros e desencontros, das pontes que não cobrem toda a distância, das mãos que se tentam mas não agarram e dos olhares que dançam juntos sem se largar.

É sempre, das relações, e mais do que isso, das compreensões que permitem duas almas se tocarem.

Geração sobrevivente

Efectivamente, a minha geração que ainda está pelos vintes/trintas, já sobreviveu conscientemente ao vírus do ano 2000 que ia paralisar o mundo;

à gripe das aves que afectou principalmente todos os patos que habitavam os lagos em jardins planeados das cidades grandes;

à doença das vacas loucas;

à doença das ovelhas com língua azul;

aos ataques terroristas,

à gripe suína.

Agora avisam que em 2012 o mundo vai acabar, derivado de uma crença celta ou maia, não sei.

Por mim, venha daí 2012. Oh pa mim a tremer. Not.

segunda-feira, janeiro 25, 2010

Note to self (and to put in the shelf)

As pessoas gostam umas das outras não apenas pelo que as outras são mas também pelo como que as outras fazem sentir o que as umas são.

Faz sentido?

Mais claro seria um "gosto de ti e daquilo que sou quando estou contigo" / "gosto de ti e do que me fazes sentir que sou".

terça-feira, janeiro 19, 2010

tábua de crenças, 2003


Acredito nos recomeços por opção ou por obrigação sem que para isso tenha que largar tudo o que foi ou o que fui.

Acredito na legitimidade e na credibilidade como forma de relativizar o relativo ainda que estes dois conceitos não sejam nem tornem nada absoluto.

Acredito que as boas pessoas podem fazer coisas más sem isso as tornar más pessoas. Desconfio que as más pessoas podem fazer coisas boas mas não sei se isso faz delas boas pessoas. Suspeito que não existem boas ou más pessoas.

Acredito no silêncio da minha casa, na voz do vento e nas gargalhadas de toda a gente.

Acredito na poesia do olhar de quem não conheço e na poesia do olhar de quem gosto.

Acredito nos sorrisos das pessoas que se cruzam comigo na rua.

Acredito que hoje não sou a mesma de amanhã, espero amanhã não me arrepender de quem sou hoje.

Acredito que há pessoas de olhar triste que conseguem sorrir de coisas pequenas.

Acredito que há dias maus e dias bons e que não são eles que fazem de uma vida melhor ou pior.

Acredito na lealdade. Acredito na sinceridade e na omissão.

Acredito que os carros que vem da direita tem prioridade, mas também que há condutores simpáticos que nos deixam passar à frente quando vimos da esquerda.

Acredito que aquilo em que acreditamos faz de nós aquilo que somos e que é uma ajuda lembrar disso quando nós próprios nos sentimos perdidos.


(Tentei refazer este exercício há uns dias e não consegui nem escrever uma linha, pelo que fui buscar o anterior. Isto data de 2003. É a primeira vez que ponho no blog um texto de um caderno meu. Há coisas daqui em que já não acredito. Outras que sim, outras que quero voltar a acreditar. Até a minha letra está diferente. Talvez amanhã consiga retomar a partir daqui uma nova tábua de crenças.)

note to self

escrever um "Manual da contrução de História Encantada para si mesmo e outra pessoa".

com dedicatória à I.M.

segunda-feira, janeiro 18, 2010

Cada pessoa é uma harmonia de solidão. Decompô-la apenas pode fazer com que a sua música se torne inaudível.

Inês Pedrosa, in Nas tuas mãos

domingo, janeiro 17, 2010

1 post, 2 frases.

uma das coisas que me continua a ser inacreditáveis quando saio à noite - e bem sei a estupidez que isto é - são os cheiros. Os cheiros de todos os perfumes de gaja e gajo que nunca tinha cheirado antes; os cheiros de todos os perfumes de gaja e gajo que já cheirei em gajos e gajas diferentes e que me pergunto o que é que uns e outros tem a ver com outros enquanto faço a invevitável associação improvável; os cheiros de xixi na rua em sítios tão pouco adequados; cheiro estranho de um taxi desconhecido que me leva a casa.

sábado, janeiro 16, 2010

...

Teseu ficou para a história como herói.

Aos contemporâneos, terão chegado os nomes daqueles que falharam e, na tentativa de matar o minotauro, lhes morreram às garras de leão, olhos nos olhos bovinos.

Dois ou três incautos dos quais nunca ninguém a existência soube, terão descoberto que o maior dos dissabores não era a morte por perda na batalha - o maior dos falhanços foi daqueles que dando voltas ao labirinto nunca conseguiram encontrar a besta.

sexta-feira, janeiro 15, 2010

"YOU ARE WELCOME TO ELSINORE"

Não me sai da cabeça o poema do título, hoje.

E o dia começa chuvoso, deste lado do tejo não há margem sul à vista, embrulhada em cinzento, lisboa é uma ilha sem margens, como todos os homens são ilhas, a tentarem criar pontes que às vezes barricam outra vez. Às vezes as barricadas tem peso a mais e fica uma ponte a menos.

Entre nós e as palavras há metal fundente
entre nós e as palavras há hélices que andam
e podem dar-nos morte
violar-nos
tirar
do mais fundo de nós o mais útil segredo


"As pessoas doiem-se, sabias? Não é por mal nem por bem, não é por orgulhos nem teimosias nem maus entendidos. As pessoas às vezes magoam-se tanto, umas às outras, umas com as outras, umas nas outras... e mesmo assim guardam-se carinho, e é por isso que se dóiem."

entre nós e as palavras há perfis ardentes
espaços cheios de gente de costas
altas flores venenosas
portas por abrir
e escadas e ponteiros e crianças sentadas
à espera do seu tempo e do seu precipício


"Mas há formas de encurtar distâncias entre duas almas sabias? Tocarem-se mesmo não podem - nem são físicas! - mas pode-se encurtar as distâncias. É com sussurros, a distância entre uns lábios que sussurram e um ouvido que se ajeita para escutar é a distância mais curta entre duas almas."

Ao longo da muralha que habitamos
há palavras de vida há palavras de morte
há palavras imensas, que esperam por nós
e outras, frágeis, que deixaram de esperar
há palavras acesas como barcos
e há palavras homens, palavras que guardam
o seu segredo e a sua posição


"Não.. quando as pessoas se dóiem... é mais fundo do que isso. Olhas nos olhos de quem te dói e só te magoa. Por ti, por essa pessoa, pelo espaço que se criou e que não vai fechar. Pela injustiça de esse espaço existir, sequer. O espaço não existe, o espaço é a inexistência de algo, é a inexistência de.... de...."


Entre nós e as palavras, surdamente,
as mão e as paredes de Elsinore


"As pessoas passam a vida a tentar tocar as almas umas das outras, e a tentar que os outros toquem as suas. É por isso que trocam abraços, e um abraço mais apertado é para tentar pôr as almas mais perto, apertam-se mesmo, trocam contactos físicos para mostrar que querem proximidade, estão na verdade a tentar chegar a algo que não se chega."

E há palavras nocturnas palavras gemidos
palavras que nos sobem ilegíveis à boca
palavras diamantes palavras nunca escritas
palavras impossíveis de escrever
por não termos connosco cordas de violinos
nem todo o sangue do mundo nem todo o amplexo do ar
e os braços dos amantes escrevem muito alto
muito além do azul onde oxidados morrem
palavras maternais só sombra só soluço
só espasmos só amor só solidão desfeita


"Ultimamente têm-me doído muita gente."

Entre nós e as palavras, os emparedados
e entre nós e as palavras, o nosso dever falar


"Mas os sussurros são melhores para encurtar a distância entre duas almas."

(um sorriso doído)
"Mas os sussurros também são feitos de palavras..."

quinta-feira, janeiro 14, 2010

Pérola cultural com gás e nicotina

No tempo da ditadura salazarista, havia então uma lei que proibia o uso de isqueiro na via público a quem não tivesse licença de isqueiro.

A licença de isqueiro custava 10$00 e, o seu carácter obrigatório era justificado pela necessidade de defender uma grande fosforeira nacional, por ser de interesse público (que na verdade era de um amigo/familiar do Salazar).





Para garantir que o uso da licença e multar quem indevidamente puxava do isqueiro a céu aberto, havia a figura dos "fiscais de isqueiros", responsáveis por andar a passear na rua e detectar esses grandes infractores que usavam o isqueiro sem licença para tal.

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- O que é que queres ser quando fores grande?
- Fiscal de isqueiros.

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“I don’t really think people can change. You know, at the end of the day, you are who you are. And at the end of the day, it’s probably who you’ve always been.”


— One Tree Hill

segunda-feira, janeiro 11, 2010

E, para começar bem o dia, o que podia ser melhor do que um livro-prenda em cima da minha mesa?

Ah, já sei: um livro-prenda assinado e dedicado pela autora! :D

Obrigada Dri!

sexta-feira, janeiro 08, 2010

Turquês


Uma turquês (sim, no feminino) é uma ferramenta que serve para remover pregos e tachas. O tamanho ideal deve ser acima dos 17 cm, para garantir o efeito alavanca e assim ser necessário o uso de menor força para a extracção.

O uso desta ferramenta pode ser extremamente doloroso, dependendo dos pregos e tachas a remover. Pode-se dizer que quanto mais entranhados e há mais tempo existentes, maior a dor provocada pela extracção. Ainda não existem à venda turqueses emocionais, para proceder à extracção de relações emocionais. No entanto, quando existirem, dificilmente serão cor-de-rosa.

quinta-feira, janeiro 07, 2010

A rapariga bússola e o seu desnorte

Já se tinha habituado, ao rodopio no estômago que lhe apontava o norte. De facto até era engraçado, e os amigos não estranhavam e pediam-lhe muitas vezes para mostrar a sua barriga. Brilhante e luzidia, aparecia uma seta de metal que se movia constantemente, sempre a apontar o norte. Chamavam-lhe Bussi quando estavam bem dispostos e perguntavam-lhe tudo o que não sabiam.

Assim, dias passando alegres, a procura do norte facilitada, todas as respostas na palma da mão. Ou no umbigo da barriga, melhor dizendo.

Até ao dia em que Bussi descobriu que havia um problema por explorar, o norte magnético não era igual ao norte em graus, estranhas convenções que lhe fugiam da compreensão haviam sido tomadas. E o desvio aumentava dia a dia, fruto talvez do aquecimento global, fruto talvez de outros acontecimentos mais furtuitos. Seja como for, Bussi foi-se perdendo nas noções desenraizadas da vida, deixando-se ficar cada vez mais calada e com menos direcções a que apontar.

O resultado foi mais inesperado do que ela acharia, viu-se rapidamente sozinha no mundo, sentindo-se inútil e completamente perdida. Estranha e nova sensação, Bussi sentir-se perdida. E toda a gente a quem havia dado respostas, nem um esforço para a ajudar a encontrar uma. Ainda que por ela passassem com ar de sabedoria, ainda que lhe dessem sermões como se fossem donos da verdade do mundo. Mas era uma verdade diferente que não incluia as respostas ao que Bussi perguntava.

Pensou que haveria de passar, que a solução seria esperar mais um pouco, deixar-se ficar. Quando percebeu que não iria resultar, já não podia contar com ninguém e a seta continuava sem funcionar.

Foi este o dia em que a rapariga bússola se perdeu para sempre, sem esperanças de voltar a ser encontrada. Nem poderia, uma bússola serve para encontrar, não para ser encontrada.

Estranho paradoxo insolucionável.

quarta-feira, janeiro 06, 2010

Talvez uma nova "tendência"?

Não me sai da cabeça que 3 grandes blockbusters dos últimos tempos estejam - parece-me - a tentar uma inversão de paradigma naquela que é forma social contemporânea de pensar as relações e o papel do indíviduo numa relação.

O cinema é, por definição, o lugar mágico onde os sonhos acontecem e o eterno perpetuador do "e viveram felizes para sempre...". É-o em especial nos filmes da Disney no modelo "histórias de encantar". É-o, mais ou menos, na alegre comédia romântica de domingo à tarde. Mas nestas duas formas é-o de maneiras diferentes.

Interessa-me mais a segunda, para continuar com o raciocínio, já que a Disney se quer marcada pela pureza e inocência que é característica das crianças e não dos adultos.

Ora bem, a diferença entre disney e comédia romântica é que na primeira boy meets girl, boy fight for girl, boy and girl forever together. Na segunda é mais alguém conhece alguém, alguém se mete com outro ninguém, dois alguéns e um ninguém ou mais ninguéns tem uma série de encrencas, avenças, desavenças, voltas e reviravoltas, alguém fica com alguém e ninguém talvez com outro ninguém ou talvez sim.

Segue a norma da individualidade e da liberdade, a procura primeiro do bem-estar, as não limitações, o mundo inteiro ao dispôr do meu ego, até eu perceber que o meu ego quer é aquilo e que o resto era mais passageiro.

Certo.

O sexo e a cidade começou por aí.
Elas independentes, elas com a sua própria vida e autonomia, sem limitações, toda a liberdade, todo o querer da vontade, agora soma e segue e segue para bingo que ninguém pára a Carrie e as suas amigas já que mulher não precisa de nada nem de ninguém sem ser o seu grupo de amigas igualmente independentes e cheias de garra e vontades.

Mas não acabou aí. Ao acabar, veio inverter todo o paradigma "mulher-não-precisa-de-ninguém-e-pode-ser-feliz-sozinha-ou-com-os-vários-alguéns-que-lhe-der-na-gana". E pumba, Carrie and Big forever together.

Depois apareceu o twilight. Filme para adolescentes. Sem confusões nem aldrabices. Uma história lamechas onde boy meets girl e desde o primeiro momento em que dão as mãos não mais as largam por nada. Sem sombras nem confusões emocionais, sem misturas nem mais pessoas, eu acredito em ti para sempre, tu confias em mim para sempre.

Agora aparece o Avatar. Igualmente "limpinho", desde o momento em que acasalam jamais poderão acasalar com outros. E nem se põe em causa liberdades ou falta delas, é mesmo o assumir de um compromisso à custa de tudo o resto, acima de tudo o resto.

Depois da "sociedade do consumo descartável", que levou à famosa crise económica acompanhada pela crise de valores, estaremos a caminhar para novos princípios de durabilidade?