Andava descalça pela rua crua, sem sentir o frio que lhe subia pelas pernas acima, sem se dar conta das plantas do caminho misturadas com as plantas dos pés, seiva com sangue, sangue com seiva e a poeira encrustada na estrada, encostada no corpo.
Andava descalça pela rua, mas não era como se fugisse de alguma coisa ou como se voltasse a sítio nenhum. Os passos certos e o destino incerto, andava para não se abandonar e no entanto há tanto que ela já não morava em si.
As pessoas que passaram apressadas fingiram que não a viram, ou talvez não a tenham visto mesmo e ninguém a interpelou nem perguntou para onde ia.
Andava descalça pela rua e foi assim que passou, como se não tivesse de facto passado mas tendo deixado no chão as marcas de um sangue misturado que tornou a rua diferente... por uns dias.
Depois? Depois ninguém sabe que lhe passou, para onde foi ou que fez. Ninguém lhe perguntou, ninguém se perguntou e o mundo continuou igual.