Mariazinha tem 3 anos e quer a sua chupeta. A mãe afasta-a, porque sabe que Mariazinha se vai magoar nela, com os seus novos dentinhos. Mariazinha não sabe das razões nem dos porquês, quer a sua chupeta e quer-la tanto que dos pulmões nascem furacões que abanam as paredes da casa e transformam os cérebros dos pais em papa. Mariazinha consegue a sua chupeta e magoa-se nela com os seus novos dentinhos. Não sabe ainda que não adianta chorar sobre a chupeta derramada, mas adiante na história que a chupeta em si não nos interessa.
Mariazinha tem 7 anos e quer subir ao muro da escola. A professora não deixa, que te vais magoar Mariazinha!, e Mariazinha aproveita todos os intervalos em que a professora está distraída para acenar aos coleguinhas do alto do muro branco. Sobe uma, sobe duas, sobe vinte, Mariazinha é a rainha da escola quando a professora não vê, até ao dia em que a professora se zanga com o namorado ao telefone e volta mais cedo, dá de caras com Mariazinha no muro, grita alto e assusta-a, Mariazinha dá de caras com o chão do intervalo. Mariazinha magoa-se uma vez em 50 e deixa de ser rainha da escola.
Mariazinha tem 12 anos e mais de 7 amigas com quem partilha segredos. Que o rapaz mais giro da escola é o Rui, ai Mariazinha não se gosta de um rapaz de 14 anos. Mas ele tem estilo e as calças abaixo do rabo, os risinhos das amigas são quase histéricos quando ele passa até que lhe passa a vontade de trocar olhares com Mariazinha. Das 7 amigas, uma foi fazer conversinha - ai Mariazinha que te deu para confiares nas 7, os números perfeitos são apenas bíblicos - Mariazinha chora as traições e outras intenções, Mariazinha só tem uma amiga com quem partilha segredos.
Mariazinha tem 17 de média e 17 de idade. São os exames nacionais e Mariazinha estuda e estuda e estuda e passa e passa e chumba. 2 exames brilhantes, um exame de merda - ai Mariazinha, tão boa aluna que tu eras e ainda acabas a lavar degraus. Pode ser que não, que a segunda opção da faculdade não era a de empregada doméstica, mas pobre Mariazinha, nunca acerta, nunca acerta.
Mariazinha tem quase 30 anos e sabe que quem não arrisca não petisca, mas tem tanto medo Mariazinha que se vai desculpando que os petiscos engordam e se calhar é melhor não.
Mariazinha Mariazinha, um dia destes digo-te que se não fosses tão parva eras estúpida que nem uma porta. Sem demérito para a porta, que ainda é mais estúpida que tu porque se fecha sempre como se fosse a última vez. Até ao dia em que quebra e é substituída por outra mais prudente.
Moral da história?
É no equilíbrio que está a virtude.
Largamos a Mariazinha e recomeçamos?
Osho, Zén, Chin e Yang eram quatro amigos muito equilibrados, tão equilibrados equilibrados que podiam vir a ser os melhores trapezistas do mundo inteiro e arredores. Mas nunca o seriam, a vida no trapézio é um risco sobre uma linha e quando há mais risco do que segurança não se está no equilíbrio. Por isso eram outra coisa, gestores de coisas - um de comunicação, outro de recursos, outro de humanos e outro de gestão. Sim, gestor de gestão, hoje em dia também fazem falta. Em equilíbrio lá se casaram na idade devida com raparigas equilibradamente giras e interessantes, a tentarem equilibrarem-se em cima das suas andas, ai perdão, sapatos de saltos muitos altos. Nem demais nem de menos, nem muito apaixonados nem muito enjoados. Um deles casou com a Mariazinha e viveram equilibradamente felizes, moderadamente satisfeitos, só tinham - por mera coincidência - um problema na vida: a porta de sua casa nunca aguentava muito tempo, estava sempre a partir-se e a ter que ser substítuida.
É assim com as intensidades da vida.
Já fomos, já deixamos de ser, talvez estejamos de volta. Poderá ser o regresso do mito. O mito que nunca o foi.
quinta-feira, setembro 15, 2011
segunda-feira, setembro 05, 2011
...
A língua transformada em granito quando dizes "tens a maturidade emocional de um cachorro de 3 meses" mas não me atiras a bola de volta.
As flores de papel arrastadas pelo vento das pálas de um moinho em ruína, rua fora, ao longo da costa, para longe. É o tempo dos varredores de rua, cabeças viradas ao chão, não sei de que cor têm os olhos. Só sei do irritante barulho das vassouras feitas de ramos mortos a rasparem nas pedras da calçada, são de granito, como a língua.
É o tempo do fim das festas, dizem os varredores sem falar.
É o tempo do fim das festas, diz o cachorro sem abanar a cauda.
As pedras, essas não dizem nada. Ficam-se com o seu tempo e o seu peso, as histórias que calam e a vontade de aprenderem a voar, que nunca será de facto uma possibilidade. Mas também, assim como assim, não precisam de mais nada.
As flores de papel arrastadas pelo vento das pálas de um moinho em ruína, rua fora, ao longo da costa, para longe. É o tempo dos varredores de rua, cabeças viradas ao chão, não sei de que cor têm os olhos. Só sei do irritante barulho das vassouras feitas de ramos mortos a rasparem nas pedras da calçada, são de granito, como a língua.
É o tempo do fim das festas, dizem os varredores sem falar.
É o tempo do fim das festas, diz o cachorro sem abanar a cauda.
As pedras, essas não dizem nada. Ficam-se com o seu tempo e o seu peso, as histórias que calam e a vontade de aprenderem a voar, que nunca será de facto uma possibilidade. Mas também, assim como assim, não precisam de mais nada.
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