Dona Olimpia corria corria corria para ver se da sua angústia fugia. Começou tarde nas correrias, tinha por volta dos 45 anos, mas defendia que partir tarde não impede que se chegue cedo, se se correr veloz pela vida.
Dona Olimpia corria veloz pela vida todos os dias das 17h30 às 19h30, duas horas de voo rasante por cima de ervas, calçadas, alcatrão, pedras, cócós de cão, stresses, ansiedades e outras agonias.
Quando lhe perguntavam os motivos, a resposta variava: "é para ser mais saudável", "é para não engordar mais", "é porque me ajuda a manter activa", "é porque me dá energia", "é porque me faz sentir melhor comigo própria", "é para ultrapassar os meus próprios limites", "é porque... é porque...".
Dona Olimpia correu muito e correu bem, em poucos anos perdeu a conta aos km que percorreu, estradas fora, bairros dentro. Um dia porém, Dona Olimpia cansou-se. Olhou à sua volta e percebeu que estava na Rússia, longe da sua família, amigos, conhecidos e vida. Ainda pensou em regressar a Portugal mas já que ali estava se calhar ainda tentava começar a fazer qualquer nova com a sua vida. E desde aí, Dona Olimpia nunca mais correu.