domingo, fevereiro 15, 2009

Da crise, dos novos valores e das conclusões sem bases científicas

Começo por dizer que este post vai ser, provavelmente, longo. E continuo por um rasto de percepções e pensamentos que não pretendem ser uma verdade universal mas talvez a base para raciocínios alheios, alguma reflexão e um optimismo mais fundamentado - que eu não gosto das ilusões cor-de-rosas e de questões de fé por vontade de se iludir.


Posto isto, começo:

A crise que agora assistimos tem em sua causa várias origens. Sugerem por aí que é uma crise do próprio sistema capitalista e eu sugiro por aqui que é provavel. Porquê? Porque o capitalismo puro e duro assenta numa base qualquer que supôs um dia que os recursos eram inesgotáveis e a possibilidade de riqueza infinita. Com isso se criou uma mentalidade que mais e maior seriam sempre possíveis mas acontece que o Homem não descobriu novos mundos a dar ao mundo para tornar tal filosofia possivel durante mais tempo.

Pressupõe o capitalismo que uma empresa pode ter sempre mais rendimento e que portanto é necessário consegui-lo. Ora, todas as empresas a tentar o mesmo daria uma de duas coisas:

a) uma empresa única que tivesse conseguido aniquilar toda a concorrência e estabelecer-se num regime despotista (e era um dos possiveis fim do próprio capitalismo)

b) várias empresas com os seus "quintais" bem definidos, a tentarem-se roubar só mais uma "árvore" ao "quintal" vizinho. De qualquer maneira, haveria uma tendência para uma estagnação mais ou menos geral já que uma árvore não faria o mundo andar para a frente, significativamente. De qualquer maneira, seria um capitalismo abrandado, com territórios mais ou menos bem definidos e sem a "sede" capitalista no seu auge.

Fosse por onde fosse, o capitalismo tal como o concebemos estava arruinado e tenho a certeza que há por aí pensadores que o previram em tempo útil e não agora olhando para o mundo, como eu.


Acontece que eu não acho isto excessivamente importante. Porquê? Porque há já vários anos que a educação e os valores que se dão ao jovens (tipo remédio) não são os mesmos que alimentam o regime capitalista, pura e duramente.

Ora reparem, os vossos pais provavelmente trabalham em algo que surgiu como seguimento natural daquilo que os vossos avós faziam. Se assim não foi, então quase de certeza que os vossos avós trabalharam em algo que surgiu no seguimento daquilo que os vossos bisavós faziam. Mas, provavelmente, connvosco a conversa foi diferente.

Comigo foi. Havia aquela conversa que não houve com o meu pai nem com a minha mãe. No meu caso foi-me feita por toda a gente mas destaco a conversa do meu pai. Era qualquer coisa assim: "Sofia, tu tens que seguir aquilo que queres fazer. Para te sentires realizada, tens que seguir a tua vocação... mas o pai gostava muito que fosses para Direito."

Tirando a última parte, aqui contada por piada, no tempo em que eu tive que seguir um curso estava (e está) em voga um conceito muito importante que na altura do meu pai nem se pôs em cima da mesa: Vocação.

A possibilidade de se fazer uma coisa que realmente se gosta põe em causa - na minha perspectiva - o sistema capitalista. Já não se trabalha para conseguir atingir o máximo lucro, agora trabalha-se para se conseguir o máximo valor e ter o máximo impacto, com a maior realização pessoal e profissional possivel. Assim sendo, adicionou-se a questão dos valores e da ética que limitam o capitalismo. Se isto já acontecia antes, ou se a sociedade já valorizava isto no mundo das empresas, agora sserão as pessoas das empresas que põe realmente esta questões em jogo de uma maneira mais real do que a de "parecer bem para o consumidor".

Não sei se causa, se efeito. Não sei onde começou esta tendência, se na origem da falha do capitalismo ou se deu origem à falha capitalista - se a anteveu ou se apareceu depois como consequência... sei que neste momento as duas coisas confluem para um caminho único que, apesar de ainda não se saber muito bem qual é, parece mais acertado.

E pronto... era isto que eu queria dizer hoje, depois de uma conversa com uma pessoa cuja temperatura corporal é inferior à do mundo e que me ajudou a materializar este raciocínio. (private joke)

:p

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