Sabes que sonho.
Que ás vezes me perco nas entradas e estradas dos meus próprios sonhos, nas ilusões que idealizei. Que me esqueço da realidade para esquecer a saudade, que me agarro a fantasias para fazer durar os dias.
Sabes que me perco.
Em emaranhados de suposições, em "ses" infinitos, em completas divagações, para não ter que sentir as âncoras das existências. Como se pudessemos criar um navio, como se houvesse outro mundo do lado de lá do horizonte, como se não estivessemos sempre, em todos os momentos, do lado de cá do horizonte. Sempre. Do lado de cá. Não há outra forma de existência sem ser esta, do lado de cá do horizonte.
Sabes das deambulações.
Entre códigos, signos e objectividades, entre formas, conceitos e supostas verdades, entre ignorâncias mal tapadas com pedacinhos sonantes, chavões, palavrões, meta-questões, com a desculpa de procurar qualquer coisa mais profunda, mais densa, qualquer coisa que não existe mas persiste na vontade irrealizável.
São desculpas. São fugas. Esconderijos provisórios de baixa qualidade.
A vontade de ser pássaro sem ter asas.
O nunca deixar de sentir o vento na cara.
O não deslargar nunca daquilo que jamais pode ser.
Para fingir que não se tem o que se tem.
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