quinta-feira, dezembro 05, 2013

There is hope for level 140 on candy crush

Wake up in the morning and grab your cellphone. Take a deep breath and push the "play" button. It could be the 100th time you give it a try. Or 1000th. Probably you already found out that there are no strategies for this level. Probably you already found out there are no cheats or tricks to clear the 140 level on candy crush. But let me tell you a story I've heard a couple of years ago:

During the year of 1930, people heard about an old gentleman with a brown hat and a black mustache that made it. He cleared level 140 on candy crush, and what was more unbelievable, he made it at the third try. It was a rainy day, the wind was blowing and the trees would dance outside the window at the same rhythm than the gentleman's cellphone sound. So happy of his conquest, the gentleman screamed "Sweet!" and after that he said "Delicious!" and after that he disappeared forever. Those two words echoed on the empty streets for ages, but never again the gentleman was seen.

This story have been told by generations, passing from fathers to daughters, heard in silent corridors or told during winter nights near the fireplace. There are no records of that gentleman, the first one to achieve it. No one knows what happened, some people thinks he was kidnapped by the candy crush mafia, other people believes he is trapped by our government in order to study his brain and skills, other people believes he simply found out the secret of his existence and lives now in a much better place that it is still locked to the ordinary people. But, in order to remember him, the candy crush developers included a record of the gentleman's voice screaming the same two words: "Sweet!" and "Delicious!" as the brave man screamed that windy night.

Either way, that is not the question. No matter what happened to him, one thing you know now, It is possible. Level 140 on candy crush can be cleared. Is not a matter of faith, it has been proved. So, come on little candy crush addict, just raise your eyes to the window, take a deep breath and click "retry" one more time. Only one more time until is done. it is possible!

quarta-feira, agosto 28, 2013

A lenda de Ódelouca

No concelho de Almodovar há uma ribeira chamada de Ódelouca, vestígio de tempos antigos em que se conta que uma mulher descalça habitava estas margens, navegava nestas curtas águas, em busca da ´Verdade Última". 

Os locais reconheciam-na ao longe, trajando cores claras por entre as marcas da terra e da água, conversando com os peixes, as aves, os lobos, as árvores. Frequentemente gritava contra as pessoas que a observavam, um chorrilho de palavrões imperceptível, inventava insultos como uma raposa dá saltos em fuga: Rápida e ágil, punho erguido e cauda espetada. Poder-lhe-ia ser diagnosticada uma qualquer esquizofrenia marada ou ter pela frente uma carreira brilhante em consultoria, mas os tempos eram diferentes e as gentes só lhe tinham medo. 

Ora acontece que estávamos em 1189 e D. Sancho I enviou uma frota de Cruzados para conquistar Silves. O plano era fácil, subir o rio Arade, cercar a cidade e conquista-la aos mouros. Pilhar comidas e bebidas, riquezas e tristezas e depois, logo depois, seguir o caminho para a Terra Santa. Afinal de contas, foram estes raciocínios e necessidades que deram origem às estações de serviço para abastecer o carro e comer qualquer coisinha.

Ora acontece que os ditos cruzados cruzaram por terras erradas e acabaram a subir uma ribeira pouco navegável. "Eu bem te disse que era para a esquerda, cala-te tu nunca queres pedir direcções, mas via-se logo que era para a esquerda, desculpa lá mas a estrela polar não avisou"... e entre discussões para aqui e culpas para ali, vê-se chegar na margem uma senhora de ar calmo, vestes claras e cabelo ao vento. Prontamente os cruzados viram salvação, "oh minha senhora, o caminho para Silves? É por aqui?" e a senhora da ribeira olhando de ar esgazeado os mal cheirosos barbudos que ousam entrar-lhe no reino líquido logo grita uma série de impropérios tão comprida e feroz que os soldados logo se denortearam. Não contente com isso, arreia saias para cima (até ao joelho) e faz-se à água, diz-lhe que o que lhes falta é um processo para sairem dali, que falhar em planeamento é planear falhar, que deviam ter feito follow-ups mais apertados, que nem chegaram a atingir a milestone para o arranque do projecto e que as calças que usam são feias e nada modernas. 

Os soldados atazanados com uma mulher que lhes ousa falar assim, logo arregaçaram mangas para se porem ao trabalho, "agora faz isto, agora faz aquilo, agora o outro" e toda  a noite de trabalhos sob a direcção da louca levou à criação da bandeira triangular que tão importante foi para a navegação ao contrário do vento, durante os restantes descobrimentos uns anos mais tarde. 

Mas o legado da louca visionária foi maior, basta uma visita ao supermercado para ver os homens obedientes aos designios das mulheres, agora mete isto, agora vai buscar aquilo. Também pela louca os homens do mundo nunca mais pediram indicações para os caminhos, repetindo entre dentes que todos os caminhos vão dar a Silves se não parares para perguntar. 

No final Silves foi conquistada, os descobrimentos foram feitos mas o mundo jamais seria o que é hoje se não fosse a louca da ribeira de Odelouca.




quarta-feira, agosto 21, 2013

Dona Maria Fernanda

O sol espreguiça-se e cheira a manhã do lado de dentro da cama. Dona Maria Fernanda levanta-se devagar, parece que lhe custaram 54 anos a acordar e olha em seu redor com estranheza. Pensa que ali está ele, mais um dia em branco para preencher como quiser, entenda-se, como tem que ser mas dentro do como tem que ser, será como quiser. Era essa a promessa não era? Um dia em branco para começar a dar o melhor de si - era isso o que tinha que querer não era? Dona Maria Fernanda sentada na cama com 54 anos de sono e pensar que mau dia para acordar de vez. A sentir-lhe a frustação entranhada na barriga, a pensar-se grávida de revolta de uma vida que não escolheu e que não quis, das promessas feitas que nunca foram quebradas - estão apenas por cumprir. Há quase 54 anos também.

Dona Maria Fernanda levanta-se de vez, percorre o caminho até à casa de banho e faz xixi da maneira que quer que é também a melhor maneira que sabe. Dar o melhor de si mesma a fazer o xixi matinal. Dar o melhor de si mesma a esfregar-se no banho. Escolhe a roupa, penteia o cabelo, bebe leite com café, esfrega a maquilhagem do mesmo tom que a camisa que tem o tom dos sapatos. Um brinco e outro, o carro para o trabalho, Dona Maria Fernanda dá o melhor que sabe nas filas, nos semáforos, nas curvas. No estacionamento, ao dizer bom dia, Dona Maria Fernanda agenda reuniões, preenche impressos, procura informação e nem um cabelo lhe sai do sítio, nunca um esmorecimento de sorriso, Dona Maria Fernanda agarrou o dia para fazer o que quer - que tem que ser "ser o melhor possível", "ser simpática e agradável", "ouvir as outras pessoas", "pedir opinião e envolver os colegas", "não procrastinar", "combater a preguiça concentrado-se nos objectivos", "fazer mais e melhor", "planear e informar para não falhar", "agarrar as oportunidades que lhe aparecem com entusiasmo", "fazer network através de construir relações verdadeiras que se baseiam em fazer perguntas e mostrar interesse", que dia cheio tem Dona Maria Fernanda a fazer aquilo que quer que é o melhor que pode. Sem se comparar com os outros, sem criticar os outros, sempre procurando soluções e nunca responsabilidades.

Amanhã Dona Maria Fernanda tem nova oportunidade de fazer o melhor que pode com o dia que tem. Hoje escorregou num mal entendido, deu dois gritos a um colega, ignorou uma dead line para sair mais cedo. E sabe que acima de tudo Dona Maria Fernanda só se prejudica a si mesma porque assim pode nunca lhe aparecer a oportunidade que lhe poderia aparecer se Dona Maria Fernanda fosse o seu melhor em todas as situações, como quer em cada novo dia em que o sol se espreguiça lá fora.

sexta-feira, junho 14, 2013

É agosto e a terra está seca, gretada. O chão feito pó, o pó feito mundo, cheiro de alcatrão e deserto, pessoas refugiadas em paredes e casas e ares acondicionados a zumbirem baixinho, um sem número de ares acondicionados a fazerem zzzzzzzzzzzzzz e os cortinados meu amor, os cortinados desta vez abanam por de dentro das casas. As casas a fingir que respiram, as pessoas a fingirem que são livres nas prisões escolhidas, o mundo civilizado a esconder-se da natureza intrépida que reclama de garganta arranhada e seca que afinal quem ainda manda é ela e a gente a enganar-se meu amor, a gente a enganar-se entre paredes e aquários de vidro a dizer que sim, que somos tudo e fazemos tudo sem coragem para por o pé la fora. E nesta secura cai uma lágrima tua bebida pelo mundo que é pó de chão e terra gretada, gota sagrada que alivia e cura e faz renascer a vida debaixo do mesmo sol escaldante que a matou.

segunda-feira, abril 29, 2013

dos 10 aos 30



- aos 10 tens todos os amigos do mundo quando queres
- aos 20 tens os amigos que queres e é para sempre
- aos 30 tens os amigos.

- aos 10 o melhor do fim-de-semana é ir brincar na rua
- aos 20 o melhor do fim-de-semana é sair à noite
- aos 30 o melhor do fim-de-semana é dormir.

- aos 10 achas que vais encontrar o principe encantado, casar e ser feliz para sempre
- aos 20 achas que todos podem ser o principe encantado
- aos 30 achas que realmente os principes devem ser todos sapos.

- aos 10 anos imaginas-te aos 30 casada, feliz e com 3 filhos
- aos 20 anos imaginas-te aos 30 casada, feliz, com 1 filho e montes de sucesso profissional
- aos 30 anos duvidas do casamento, dos filhos e do sucesso profissional mas estás feliz e não querias necessariamente que fosse de outra maneira.

- aos 10 anos sais com pessoas de 20 e é uma seca.
- aos 20 anos sais com pessoas de 20 e achas que conseguem conquistar o mundo numa noite
- aos 30 anos sais com pessoas de 20 e percebes que já não tens 20.

- aos 10 achas que os de 30 são adultos responsáveis, maturos e que sabem tudo
- aos 20 achas que os de 30 são completamente livres, independentes e tomam todas as decisões da sua vida com responsabilidade
- aos 30 achas que é quase indiferente ter 30, 20 ou 10, em matéria de responsabilidade, maturidade e conhecimento

- aos 10 anos, o mundo inteiro é a tua rua
- aos 20 anos o mundo é um lugar enorme que é impossivel conhecer
- aos 30 anos o mundo é estranhamente pequeno mas interessante.

- aos 10 queres ser tudo: veterinária, advogada, escritora, bióloga, fotografa do national geographic
- aos 20 queres ser a melhor profissional da carreira que te calhou
- aos 30 queres largar tudo, não ser nada e ir ver o mundo

- aos 10 achas que o que não nos mata torna-nos mais fortes
- aos 20 achas que elas não matam mas móem
- aos 30 achas que as todas as coisas são válidas, mesmo quando são contrárias.

- aos 10, as pessoas fixes são as que sabem jogar à bola
- aos 20, todas as pessoas tem alguma coisa de interesse para descobrir
- aos 30, todas as pessoas tem um desequilibrio qualquer e tu só estás para lidar com 10% dessas pessoas (que são as que tem um desequilibrio compativel com o teu)

segunda-feira, abril 15, 2013

os mares das gentes


Os mares, os oceanos que se tocam e trocam, em divisões planeadas e escritas à mão, em contratos que contém sal proveniente de diferentes desejos e vontades. As pessoas trazem mundos e mares dentro de si, a colapsarem e a colidirem como ondas em rochas, a rebentarem fora de tempo, a gritar o agora contra o eterno. A gritarem o que sabem contra o que querem, a gritarem não os limites que encerram mas os limites que transbordam. A quererem transbordar-se de si em voz, em palavras, em toques. Ansiando quem as transborde, acossando-as com tempestades e ondas mais altas que prédios, as construções humanas, as convenções a fecharem passagens, a calarem segredos.

conheço um pedinte que tem um segredo que dói. O que ele precisa dói-lhe tanto que não pede, grita e ofende quem passa - o desespero enraivecido, não porque lhe seja devido mas porque nasceu da necessidade mais visceral que o acossou. "Pobre diabo" penso quando  o vejo, cheia dos direitos e legitimidades que ele (não) tem das exigencias que o atormentam. Pede o errado, pede moedas em vez de sorrisos, pede dinheiro em vez de atenção e sabe de antemão que nunca jamais alguém valorizá alguma coisa dele, pobre diabo abandonado a uma sorte contra a qual não foi capaz de lutar. o mar dele a rebentar-se em quem passa. E não consegue expressar-se melhor, porque não pode, todas as vezes que se afundou, todos os caminhos que não fez, todas as paisagens que não visitou e as pessoas que o olham a cobrar-lhe isso, devias ser mais assim porque devias saber melhor. Um dia destes aparece morto. afogado numa esquina entre ruas, sem ninguém perceber como foi possivel.