quarta-feira, novembro 28, 2012

Dona Céu - external and anonymous collaboration


Dona Céu is 53 years old. She’s divorced and has 2 kids that she sees often enough. She lives with a friend in the south of Spain in a small house with a blue door. She picked the house because of the blue door. Somehow it made sense to live in a house with a blue door when your name means sky.

She loves to cook and to gather friends and family around the dinner table chatting and eating her marvelous cooking. She’s particularly good with the oven. Everything she bakes comes out tasting delicious. Her friends often joke she could bake a rock and it would come out tasting delicious.
Dona Ceu works with old people. She feels it’s her way to give back to society. Most people would prefer to work with children but it her case she feels old people need her more and she feels it’s rewarding to be where you’re needed.

She has very few worldly possessions except for her book collection and an old porche. These seem to be her only 2 hobbies in life.

She used to travel a lot around the world and sometimes in the very few occasions when she has a lot of scotch you can still listen to her stories about distant places and different lives.
When asked why she doesn’t travel anymore she usually answers she’s happy where she is.


(Dona Céu has been created/found by a friend)

segunda-feira, novembro 26, 2012

V.


Há uma cidade onde as estradas são líquidas e as teimosias imunes à vontade de prender os pés no chão. Há uma cidade onde as ruas são feitas de marés e os homens não decidem os caminhos que percorrem, docilmente entregues a correntes e ventos, aprenderam à muito que os lemes são ilusões de controlo e que é na aceitação da descoberta imprevisível que se dobram esquinas de algas e lodo para se chegar a algum lado diferente, outro qualquer.

Há uma cidade construída por pontes a segurarem as margens dos caminhos, a servirem de aproximações ao que não nasceu junto, a quererem ligações ao que nunca foi uno. Dizem em outras cidades que não separe o homem aquilo que Deus juntou, mas nesta terra-água cabe ao homem juntar o que Deus separou.

Poderiam os homens deste estranho sítio serem homens-peixe, escorregadios e adaptados ao ambiente, mas a sua missão é maior do que a lei de darwin. trazem nos genes as improbabilidades acontecidas, trazem na pele as âncoras que os prendem ao não determinismo próprio.

segunda-feira, novembro 19, 2012

Dona Selena


"Se pudesse ia, 
se soubesse cantava, 
se houvesse ficava, 
se quisessem dançava, 
se sonhasse saltava, 
se mais houvesse menos lá chegava..."

Assim pensava Dona Selena, entre ruas cruzadas e atalhos paralelos, entre possibilidades remotas e condicionantes internas, entre ilusões e obrigações.

Na cidade conheciam-na bem, especialmente os lojistas, "Bom dia Dona Selena, que procura hoje?", ah, procuraria um vestido se houvesse aí uma festa aonde ir, mas um vestido amarelo se vocês tivessem, mas se este fosse mais curto era perfeito para um casamento ou baptizado!.. Mas não há, diga-me lá, quero uma camisola, se tiverem do meu tamanho, se houver com flores verdes, se amanhã estiver sol quero ir de verde, se for mesmo fazer greve porque como as coisas estão, ah, se eu tivesse partido quando era nova, agora é que era, quando era nova, se tivesse ido não tinha esta vida...

E não teria esta vida, se tivesse partido quando o namorado lhe propôs, se tivesse agarrado nas malas com as duas mãos em vez de ter ficado de mãos atadas a pensar e se não arranjo trabalho, e se deixas de gostar de mim, e se tenho saudades, e se me acontece algo e tenho que ir ao hospital, e se de repente sou feliz e não sei...?

Não lhe serviram de nada as hesitações quando nas noites mais frias Dona Selena começava as suas divagações, desliando e enliando compridos fios de possibilidades sobre se era para ser, como teria corrido, se tivesse ido, onde estaria, como seria. Não sabe Dona Selena que numa vida paralela existe outra ela, deitada noutra cama e com outra vida que nas noites mais frias pondera como seria se tivesse ficado, se tivesse lutado, se se tivesse agarrado ao que conhecia.
Ali ao fundo da estrada vê-se uma sombra que acena, mesmo ali, ao fundo da estrada, olha pra lá, pela janela, lá ao fundo... reconheces-te a ti a acenares-te um adeus de quem já foi?