Dona Teresa tinha
a certeza que das estórias românticas que guardamos, sobram mais do que
memórias espalmadas em páginas de livros velhos. Mas esse mais, do que é feito?
Dona Teresa sabia
que não eram as saudades - essas têm prazo de validade, tempo limite, metem-se-nos
primeiro dentro do corpo mas acabam por escorrer para dentro de uma arca
qualquer, encontradas por acaso aquando a procura incessante de um telemóvel velho
de substituição e – ai o que é isto, ai que giro – sorriso nostálgico e - volta
a aventá-las lá para dentro.
Dona Teresa sabia
que também não era a tristeza, essa desvanece-se entre um ou outro empurrão de
um amigo, um vá tens que vir, vá anda lá, e mais cedo ou mais tarde, com maior
ou menor sabor a álcool, já está.
Dona Teresa tinha a certeza que das estórias,
aquilo que realmente nos sobra, são as manias novas, vícios pequenos, tiques e esquisitices,
velhos hábitos adotados numa nova existência, de um lado passam para o outro.
- Sabes – dizia Dona
Teresa – eu tive uma vez um namorado que não saia de casa sem saber onde estava
a estrela polar e… olha, e está ali – e apontava por cima do ombro sem sequer
olhar.
- E.. Sabes… -
dizia Dona Teresa – o a seguir dizia que as cuecas devem estar na mesma gaveta
do que as meias, mas aquelas á frente destas e… bom, e não precisas de ir ver a
minha gaveta. E havia aqueloutro, que cada vez que mastigava tinha que mastigar
15 vezes e é por isso que reclamas que como devagar quando estamos a conversar.
E o pior – continuava dona Teresa – foi o seguinte, que mesmo depois de termos
acabado me veio dizer que guardava as meias com as cuecas, e estas à frente
daquelas e que mastigava 15 vezes antes de engolir e que essas coisas o faziam
pensar em mim. Mal sabe ele que deveria estar a pensar nos meus outros dois ex's. Não é irónico?
- É que sabes… -
continuava Dona Teresa – as saudades e a tristeza, as lágrimas e recordações,
as memórias e outras histórias, acabam por ir passando. Mas as maniazinhas e
esquisitices, essas ficam contigo até já nem te lembrares de onde vieram. Menos
romântico do que prático e até ver nunca encontrei ninguém que considerasse
isso na escolha de um parceiro. Não é curioso?
Sem comentários:
Enviar um comentário