é decerto a mais terrível das ausências. O silêncio pode ser descoberta, o silêncio pode ser cumplicidade - o silêncio pode ser entendimento. Entendimento entendido subtilmente, entendido em segredo. A ausência das palavras não é isso, é so vazio.
Quando há a ausência das palavras, o vazio é feito de "enchidos", carne sangrenta empurrada de qualquer maneira. É o vale-tudo das frases que continuam vazias de palavras que queiram realmente dizer alguma coisa.
Reparem que normalmente tudo o que as pessoas dizem é desinteressante. "Então, que tal?" "Bem... muito trabalho" "Pois, eu também... nem imaginas o que eu tive que fazer esta semana!" e é quase certo que começa uma espécie de competição sobre quem teve mais que fazer. E nenhum dos lados está realmente interessado naquilo que o outro lado diz que fez mas apenas em demonstrar que a sua semana foi mais "enchida" do que a do outro lado. "Enchida" sim, como farinheira ou chouriço.
O verdadeiro mal nem é que a maior parte das conversas sejam desinteressantes - são-no quase sempre. O que importa numa conversa, creio, é a interacção entre duas pessoas, o criar, reforçar ou desfazer laços afectivos. Para isso não é importante o nível de interesse da conversa, só interessa o efeito ou impacto que a pessoa, por meio daquela conversa, de todas as necessidades preenchidas e reveladas, por meio de um "jogo" de movimentos, expressões, atitudes, olhares, o efeito ou o impacto que a outra pessoa e nós proprios ficamos dos laços criados, reforçados ou desfeitos.
Não são as conversas desinteressantes o sintoma da ausência de palavras. O sintoma é, na verdade, o vazio que se sente cá dentro e que não vai embora mesmo quando se sofre de "verborreia".
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