ligeiramente entediada. Na verdade, completamente arrasada e triste. O meu cão foi-me raptado. Acalmem-se aqueles que estão já a caminho da esquadra para fazer queixa, não, não, sentem-se de novo por favor... já está? Pronto, pronto... eu explico: o meu cão foi-me raptado, subtil e docilmente levado pela minha mãe. Pois sim. Deu-me dois pares de calças, um livro e deixou-me vestida, lida e sem cão. O saldo é-me penosamente negativo, é mesmo. A casa está limpa, brilhante, reluzente. È possível e aceitável comer-se no chão mas o que me dói a mim não vislumbrar por meio de uma fuga de luz solar que me entra incautamente pelas frisas da persiana, um ou dois pêlos amarelos boiando no ar.
Ouvi algures recentemente que os amigos imaginários das crianças surgem em momentos de perda, mudanças difíceis com as quais os pobres anjinhos (quando são nossos) ou os inquietos diabinhos (quando são dos outros) se defendem do que não sabem lidar. Pareceu-me bem, pareceu-me aceitável, escolhi a Tita. A Tita é o meu novo animal de estimação para que eu própria consiga lidar com esta irremdiável perda semanal, com interrupção ao fim de semana.
A Tita é uma tartaruga marinha. Tem 110 anos de idade, uma jovem na flor da vida. A minha Tita é uma "Eretmochelys imbricata ", nome para a vulgar "Tartaruga de Pente". Mede 90cm e pesa 140kl. Não é muito para a espécie mas mesmo assim é tão tão tão bonita! Deve ser por isso que as pessoas de campo de ourique param na rua quando eu passo com a trela, passeando a minha Tita. Os cócós dela, apesar do seu tamanho, são mais fáceis de apanhar dos que o do meu cão. A parte mais chata é que os passeios, apesar de o percurso ser o mesmo, são um bocadinho mais demorados....
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