sábado, julho 23, 2005

Reflexões sob um ar condicionado

1º aviso: "sob" é diferente de "sobre". Se por acaso aqui entrou em busca de informações, preços comparativos ou as várias características de algumas marcas de ar condicionado para saber qual a melhor oferta preço/qualidade ou qual a solução que melhor se adequa à sua situação económica, geográfica e familiar, entrou enganado. Entrou enganado mas pode-se deixar ficar. A gente não leva a mal se ficar. Mas agora tem é que se esquecer momentâneamente do ar condicionado e pensar em assuntos mais filosóficos, mais profundos... é que vamos entrar directamente nas grandes questões existencialistas da vida humana. E ainda que nesta altura do ano um ar condicionado ajude a manter a linha de racíocinio, ele possibilita o acto de pensar em si mas a sua importância não lhe advém por ser o "objecto pensado". Ao reler esta frase dou-me conta que o tenho que pôr mais forte porque duvido que me tenha feito entender. Enfim, como não é o assunto fulcral não me vou deter neste ponto.

Ora bem, ar condicionados à parte (céus, tanta coisa só por causa dum título! É por estas e por outras que eu não gosto deles.) vamos lá entrar nas questões existencialistas: Ontem fui ao teatro. Ver? "Confissões de mulheres de 30". Se a peça é boa ou má convido todo o caro leitor a ir vê-la e a decidir sozinho, também não é sobre a peça em si que este post se destina.

Ora reparem, a peça falava de uma suposta "crise dos 3o", a idade do "agora ou nunca", as coisas que se passam, a última oportunidade para decidir o caminho que se quer seguir. Porque "se aos 20 achamos que a vida é uma boleia, aos 30 percebemos que temos que traçar o nosso caminho definitivo". Não tenho a certeza se a frase era exactamente assim mas era do género.

Ora bem, ora bem. A infância é gira e tal, é divertida, é engraçada. Tudo bem, a infância. Mas a infância não nos dá lá muita autonomia nem hipótese de racíocionio, enfim. A infância é engraçada mas não é a idade das certezas, conhecimento nem da realização. Depois vêm a adolescência. Céus, a idade do armário, as crises, as emoções, os 50 mil livros de ajuda aos pais para ajudarem os filhotes a passar essa dificil fase de borbulhas no rosto. Depois vem a idade dos 20, aquela em que já queremos ter toda a autonomia do mundo mas só temos alguma. A idade de arranjar trabalho e não conseguir. A idade de se ser explorado e mal tratado a nível profissional, o estagiário que anda a servir cafés e a bajular os pés do chefe. Depois vem a idade dos 30, a idade do "agora ou nunca", a idade do peso da escolha definitiva. Depois é a crise da meia-idade, a menopausa, uma tentativa ridicula de se viver as outras idades desprezadas na altura. Depois vem a velhice e tudo o que trás também.

Basicamente a nossa sociedade e a sua psicologia barata andam por aí em busca de arranjar problemas e dificuldades em todas as épocas, pessoas, estratos socias, culturas e por aí fora. Acho que a nossa sociedade anda a sofrer de uma qualquer psicose vitimizadora ou qualquer coisa do género. E acho engraçado porque em todo o lado a rapidez urge, o momento é o agora, a instantaneidade das coisas, os milagres em 5 minutos. Mas "agora" nunca se está bem.

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