fixaram-se por acaso numa janela. Era um quarto, a janela aberta de par em par. Fiquei ali a acabar mais um melancólico cigarro. Depois do terceiro filho ter nascido deixara de poder fumar em casa. E outras coisas mais que a minha mulher já não suportava em mim. De briga em briga, os corpos perdendo firmeza... ultimamente tudo era mais espaçado, mesma as próprias brigas.
Entretido pelos meus pensamentos apercebo-me de movimento no quarto. Foco o olhar e a atenção, mera curiosidade. Uma miúda nua! Toalha enrolada na cabeça, procurava a roupa que iria vestir talvez, movia-se com destreza e agilidade, corpo perfeito, luzidio. Pareceu-me bonita mas toda a gente é bonita aos 20 anos. E ela de repente deu comigo ali especado. O que fez? Nada. Diria que me olhou nos olhos, endireitou ainda mais as costas e continuo na dela. Como se nada. Atitude desafiante, beleza segura de si. Ah, a juventude. E o corpo continuava brilhante e aposto que o olhar era desafiante, uma rapariga daquelas que olha de frente para qualquer pessoa, queixo até um bocado erguido, segura das suas certezas. Suponho que se deve ter rido até, na segurança da sua juventude e do seu quarto, "mais um velho baboso que vai ter sonhos eróticos comigo". Mas não. Mentir para quê? Não duraria dez minutos em cima dela, não teria mais do que o meu próprio e fugaz prazer. Um ruído de gritaria lá dentro, "Vai perguntar ao teu pai! já não posso mais com isto!". Apago o cigarro num vaso e fecho a janela ainda antes que ela volte para a casa de banho."
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